UEFS firma primeiro contrato de licenciamento de patente com startup criada por egressas da pós-graduação
O acordo representa um avanço institucional e consolida a política de inovação da universidade, liderada pela Agência Inova Uefs.
Em um marco histórico, a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) firmou seu primeiro contrato de licenciamento de patente com a startup Puba, bioindústria criada pelas egressas dos cursos de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais (PPGRGV), Taris Maria Macedo, e do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec), Acsa Magalhães. O acordo representa um avanço institucional e consolida a política de inovação da universidade, liderada pela Agência Inova Uefs.
A patente licenciada é resultado da pesquisa desenvolvida pelas empreendedoras durante a realização dos doutorados, voltada à criação de insumos para cosméticos, com aplicações também em alimentos, produtos agrícolas e pecuários. A tecnologia tem origem no Laboratório de Química de Produtos Naturais e Bioativos (Lapron), com colaboração de outros laboratórios da Uefs nas áreas de física e biodiversidade. A pesquisa é baseada em plantas da Caatinga, conhecidas por produzir compostos bioativos em resposta a condições ambientais extremas.
A professora doutora Angélica Maria Lucchese, orientadora do estudo e vinculada ao PPGRGV e PPGBiotec, destaca o caráter multidisciplinar da iniciativa. “Nosso objetivo é estudar plantas da Caatinga que geram substâncias antioxidantes e fotoprotetoras. Ao integrar pesquisadores de diferentes áreas, conseguimos desenvolver insumos com potencial para uso em cosméticos e farmacêuticos, transformando ciência em benefício social”, frisa.
A patente foi depositada em 2024, com titularidade da Uefs e da Puba, com autoria das empreendedoras, Taris Macedo e Acsa Magalhães, e também da professora Angélica Lucchese do Lapron e do professor Ernando Ferreira, do Laboratório de Espectroscopia, Nanomaterias e Sensores (Lens). A patente agora está sendo licenciada para a Puba, que está desenvolvendo novas fases da tecnologia e validando a solução proposta.
A pesquisadora Taris Macedo detalha os testes realizados e a abrangência da patente. “Realizamos testes de citotoxicidade (para saber se o produto é tóxico para a pele), tamanho de partícula, atividade antioxidante e fotoprotetora. O produto é composto por substâncias que protegem a pele e também podem ser aplicadas como fotoprotetores para plantas. A patente cobre tanto o método de produção quanto suas aplicações”, explica.
De acordo com a cientista, a tecnologia desenvolvida alia eficácia à sustentabilidade ambiental. “Esses compostos oferecem proteção solar aos frutos, reduzindo perdas na lavoura, ao mesmo tempo em que evitam a contaminação de ecossistemas sensíveis, como corais e lençóis freáticos. Trata-se de uma inovação estratégica, com alto potencial de impacto e ainda inédita no mercado”, declara.
Expectativas para o futuro da Puba
Fundada em 2022 na Uefs, a startup Puba surgiu com o apoio da disciplina de empreendedorismo oferecida pela universidade. A formação empreendedora foi decisiva para transformar ciência em negócio. “A Puba nasceu da pesquisa e da formação empreendedora que tivemos na Uefs. Nosso compromisso é transformar conhecimento em inovação e retribuir à sociedade tudo o que a universidade pública nos proporcionou”, afirma a pesquisadora Taris Macedo.
A fundadora da Puba destaca o papel da universidade na inovação e no impacto social. “Ao mesmo tempo, a gente carrega a responsabilidade de mostrar para fora que a universidade pode ser protagonista na geração de negócios inovadores, de impacto. E para dentro também, que nosso modelo é um exemplo de que é possível — e muito necessário — transformar pesquisa em produto, publicação em mercado, ciência em solução concreta”, reforça.
Ao ressaltar os avanços conquistados com o projeto, a Taris Macedo compartilha os principais aprendizados. “Um dos maiores aprendizados foi entender a importância de uma boa articulação institucional. Isso reforçou nosso compromisso com a ética e a valorização do conhecimento acadêmico, além de consolidar uma cultura de parceria. Esse é apenas o primeiro contrato de licenciamento — temos mais duas patentes já depositadas. Assim, eu diria que foi um processo muito rico e construtivo, de aprendizado para todos os lados”, afirma.
A startup está prestes a lançar um fotoprotetor natural com aplicações na indústria cosmética e na agricultura. O produto será inicialmente direcionado a culturas agrícolas mais vulneráveis à radiação solar, como a manga. A Puba também busca certificações do Ministério da Agricultura (Mapa) e de produção orgânica, visando facilitar a adoção no campo e abrir portas para mercados internacionais.
“Nosso foco é tornar o fotoprotetor acessível ao agricultor brasileiro já neste ano, em 2025. Queremos estabelecê-lo como um novo padrão sustentável no manejo agrícola, substituindo insumos menos eficientes e com maior impacto ambiental”, declara a pesquisadora Taris Macedo.
Importância da Agência Inova Uefs para formalização da patente
A Agência Inova Uefs teve papel estratégico na formalização dos contratos, tanto de compartilhamento da titularidade da patente quanto de licenciamento para exploração comercial, atuando como elo entre a pesquisa acadêmica e o setor produtivo. O coordenador da Agência, Ângelo Loula, ressalta a importância do acordo. “Esse contrato é a primeira experiência concreta de transferência de tecnologia da política de inovação da Uefs. Ele mostra que temos base legal e capacidade real de levar nossas tecnologias para fora da universidade”, detalha.
O coordenador de Transferência de Tecnologia da Inova Uefs também destaca o papel da patente no contexto universitário. “A patente garante exclusividade sobre uma tecnologia, protegendo o investimento em pesquisa. No ambiente acadêmico, ela permite que descobertas com potencial econômico sejam valorizadas e aplicadas”, frisa.
Para Ângelo Loula, a Uefs tem intensificado esforços para ampliar parcerias e acelerar o licenciamento de tecnologias. “Estamos promovendo cooperações desde as fases iniciais da pesquisa, o que fortalece a inovação conjunta. Estreitar o diálogo com empresas, órgãos públicos e agências de fomento é decisivo para transformar conhecimento em soluções aplicadas”, salienta.
Ao destacar o impacto estratégico do contrato de licenciamento, o coordenador da Inova Uefs enfatiza o papel da universidade na promoção da inovação. “Esse ciclo de pesquisa, patente, licenciamento e reinvestimento ajuda a criar um ecossistema vibrante de inovação, onde a pesquisa acadêmica não só avança o conhecimento, mas também contribui ativamente para o desenvolvimento econômico e social. Portanto, esse contrato de licenciamento não é apenas uma formalidade, mas um passo concreto para que a Universidade cumpra seu papel social e econômico, facilitando o acesso à tecnologia desenvolvida dentro da universidade”, enfatiza Ângelo Loula.