Psicóloga alerta sobre uso de chupetas por adultos: “É um artifício de regressão emocional”
Especialista alerta que o hábito pode mascarar problemas de ansiedade e estresse que precisam ser tratados na origem
O uso de chupetas, tradicionalmente associado a bebês e crianças, vem ganhando espaço entre jovens e adultos em diferentes países, como China, Coreia do Sul e Estados Unidos, com forte influência das redes sociais, especialmente o TikTok. O tema foi debatido pela psicóloga clínica Amanda Macedo, especialista em terapia cognitivo-comportamental e em distúrbios do sono, durante entrevista ao programa De Olho na Cidade.
Segundo a psicóloga, esse comportamento pode ser reflexo de necessidades emocionais não resolvidas.
“O uso de chupetas na vida adulta pode sim estar ligado a questões emocionais ou culturais. Muitas vezes é uma forma de regressão, um retorno à infância, quando a pessoa se sentia mais confortável e menos pressionada pelas tensões da vida adulta”, explicou Amanda.
Amanda Macedo destacou que, embora possa trazer alívio momentâneo da ansiedade, o hábito pode gerar consequências psicológicas negativas.
“Um dos grandes impactos é a dependência emocional. A pessoa passa a usar o acessório como um escape, mas deixa de desenvolver estratégias reais de enfrentamento da ansiedade. Além disso, pode comprometer a autoimagem e até as relações interpessoais. Imagine um profissional utilizando a chupeta no ambiente de trabalho: há uma distorção de imagem que pode gerar estigmatização”, observou.
A psicóloga lembrou que existem outras alternativas menos nocivas para aliviar tensões.
“Esse artifício pode ser substituído por uma goma de mascar, uma bolinha de apertar ou até técnicas de respiração. O problema não é a chupeta em si, mas a dependência de um comportamento disfuncional para lidar com emoções”, acrescentou.
Para Amanda Macedo, o fenômeno também revela o ritmo acelerado da sociedade atual.
“O capitalismo e a vida moderna exigem respostas rápidas. As pessoas buscam prazeres imediatos e soluções instantâneas para ansiedade e estresse. Mas o ideal é investigar a causa e aprender a lidar com as emoções de forma saudável”, pontuou.
Entre as estratégias recomendadas pela especialista estão a psicoterapia, a meditação, hábitos de sono saudáveis e o fortalecimento das relações sociais e familiares.
Amanda ressaltou a urgência de incluir a educação emocional nas escolas e no convívio familiar.
“Nossa sociedade não prepara as pessoas para lidar com as emoções. Aprendemos matemática, história e geografia, mas não aprendemos a nos conhecer e a enfrentar frustrações. Isso precisa mudar. O autocuidado emocional deveria ser trabalhado desde cedo”, defendeu.
Ela também destacou o papel das famílias na formação emocional dos filhos:
“Os filhos são sintomas dos pais. Muitas vezes, adolescentes chegam aos consultórios com demandas que poderiam ser resolvidas em casa, no diálogo com pai e mãe. É fundamental resgatar essa conexão, olhar nos olhos, dedicar tempo de qualidade e ensinar o valor do ‘não’”, concluiu.