Saúde

Maternidade e autismo: Falta de conhecimento sobre o transtorno provoca o preconceito

A falta de informação embasada contribui para uma rejeição social pois quando as pessoas desconhecem a importância de um assunto se torna difícil respeita-lo.

27/05/2022 16h35
Maternidade e autismo: Falta de conhecimento sobre o transtorno provoca o preconceito
Foto: Reprodução

ESPECIAL DIA DAS MÃES

Durante uma roda de conversa conduzida pelo apresentador Jorge Biancchi no programa Jornal do Meio Dia na rádio Princesa FM, três mulheres que vivenciam o espectro autista falaram sobre os desafios e nuances que permeiam a condição.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido como uma neurodivergência comportamental que afeta a comunicação e percepção sensorial de um indivíduo. Segundo dados do CDC (Center of Deseases Control and Prevention), órgão ligado ao governo estadunidense, existe hoje um caso de autismo a cada 110 pessoas. Assim, estima-se que o Brasil, com cerca de 200 milhões de habitantes, possui aproximadamente 2 milhões de autistas

O espectro afeta não apenas os  portadores, mas também seus responsáveis que precisam se atentar aos cuidados necessários. A presidente da Associação Mães de Filhos Autistas (Amfa), Camile Cundes, é mãe de gêmeos, que foram diagnosticados com TEA aos dois anos. Sua primeira dificuldade foi conseguir encontrar profissionais qualificados, especialmente devido à ausência de uma equipe disciplinar no SUS.

“O tratamento é uma dificuldade, não só para eles, quanto para as mães. O primeiro acolhimento, principalmente psicológico, tem que ir para as mamães porque lidar com uma criança autista não é como lidar com qualquer criança. Todos os dias recebemos olhares diferentes, é complicado lidar com a sociedade”, relata a presidente. 

A hipersensibilidade presente no espectro é um fator estressante que pode provocar reações extremas quando há uma exposição a uma vastidão de informações sensoriais. Gritos e choros são comuns em momentos, mas outras pessoas podem interpretar a situação como birra e falta de educação por parte da mãe.

Em concordância com Camile Cundes, Marília Lima, também mãe de criança autista, disse que sentiu falta desse acolhimento quando recebeu o diagnóstico. No seu dia a dia, ela segue uma rotina estrita, mas há dias que seu filho acorda nervoso, o que demanda tempo para acalmá-lo.

“A sociedade tem que abraçar a causa, pois é algo grande e precisamos de mais apoio e mais profissionais. Existem outras mães que ficam restritas a procurar ajuda na rede pública, pois quando só se encontra portas fechadas fica difícil correr atrás”, pontua Lima.

Foi pensando nessa falta de apoio que a Amfa foi fundada, e pode ser contatada através do Instagram: @amfa.fsa.

A neuropsicóloga especialista em autismo, Dra. Ana Rita Nunes, destaca que “Quando uma mulher é mãe, ela abre mão de uma parte da vida dela. Mas quando ela é mãe de uma criança atípica, ela abdica tudo”, enfatizando que essas mães se dedicam integralmente ao cuidado de seus filhos, esquecendo de suas próprias necessidades.

Até mesmo o uso de transportes públicos, como ônibus, também pode vir a ser um desafio, pois crianças atípicas sentem dificuldades com esse tipo de veículo devido às suas limitações sociais e sensibilidade sensorial. A dificuldade de aceitação em escolas e falta de políticas públicas trazem ainda mais obstáculos para a jornada. Muitas mães precisam reduzir seus horários de trabalho ou parar de trabalhar.

Para cuidar dos portadores do transtorno, o melhor a fazer ao detectar sinais divergentes é procurar um profissional o quanto antes. O TEA pode ser reconhecido a partir dos 3 meses, a depender do grau do espectro.

“Quando o diagnóstico é feito antes dos 12 meses e essas intervenções começam, as chances de prejuízos são muito menores”, explica Antunes.

A falta de informação embasada contribui para uma rejeição social, segundo Ana Rita, pois quando as pessoas desconhecem a importância de um assunto se torna difícil respeita-lo . O conhecimento acerca do TEA precisa ser divulgado de forma responsável, sem se perder para a romantização.

Destaca-se que a crença que vacinas causam autismo é completamente equivocada e perigosa.

Para que as mães e pessoas com autismo consigam conviver com melhor qualidade de vida toda a sociedade precisa agir em prol de um bem comum.

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