Economista explica impactos de endividamento de beneficiários do Bolsa Família
Enquanto o endividamento da população geral gira em torno de 25%, entre os beneficiários do programa chega a cerca de 36% para homens e 38% para mulheres.
Um levantamento realizado pelo Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com o Banco Central, revelou que o comprometimento da renda com dívidas entre os beneficiários do Bolsa Família é significativamente superior à média nacional. Enquanto o endividamento da população geral gira em torno de 25%, entre os beneficiários do programa chega a cerca de 36% para homens e 38% para mulheres.
Em entrevista ao De Olho na Cidade, o economista Gesner Brehmer detalhou os fatores que explicam esse cenário e os impactos que o endividamento excessivo pode ter tanto para as famílias quanto para a economia em geral.
“O endividamento dos beneficiários do Bolsa Família está atrelado a um fenômeno interessante que ocorre no país. Desde os programas de transferência de renda, as classes mais baixas passaram a ter maior acesso ao crédito, especialmente nos últimos três, quatro anos, impulsionado pela pandemia, pelo Auxílio Brasil e posteriormente pelo próprio Bolsa Família”, contextualizou.
Acesso ao crédito e educação financeira limitada
Gesner ressaltou que o aumento do acesso ao crédito para famílias de baixa renda ocorreu sem o devido preparo financeiro, o que agrava o endividamento.
“As famílias de classe mais baixa geralmente possuem uma menor educação financeira, o que é um problema grave no Brasil. Essas pessoas passaram a ter acesso a financiamentos e crédito, mas sem conhecimento adequado para lidar com esses compromissos financeiros, a dívida se torna quase impossível de ser paga.”
Segundo o economista, esse alto nível de endividamento pode levar a um círculo vicioso, com as famílias consumindo menos e, consequentemente, impactando o consumo nacional.
“Se as famílias passam a se endividar, elas consomem menos, o que impacta diretamente o consumo nacional. Além disso, os endividamentos que muitas vezes não serão pagos se transformam em um problema que pode recair sobre os órgãos governamentais para solucionar.”
Para enfrentar o problema, Gesner sugere que é essencial introduzir a educação financeira desde cedo nas escolas brasileiras.
“O acesso à educação financeira no país poderia diminuir muito esse processo. Isso, porém, depende de uma política educacional que inclua educação financeira nas escolas, para que desde cedo as crianças e jovens adquiram uma formação que contribua para o planejamento financeiro pessoal e familiar,” afirmou.
Ele também compartilhou orientações práticas para famílias que enfrentam dificuldades em controlar seu orçamento.
“As regras básicas para evitar o endividamento são gastar menos do que se ganha e fazer planejamento financeiro. Colocar na ponta do lápis as despesas fixas, que são os custos mensais, e as variáveis, e planejar a partir disso”, explicou. Além disso, Gesner sugere poupar uma pequena parcela da renda, mesmo que seja difícil para famílias de baixa renda. “Recomenda-se poupar entre 3% a 5% da renda, mas, se não for possível, apenas evitar gastar mais do que se ganha já ajuda a prevenir o endividamento,” concluiu.
*Com informações do repórter Robson Nascimento