Economia

Crédito caro e inadimplência crescente ameaçam sobrevivência de micro e pequenas empresas no Brasil

Economista alerta para os impactos da alta dos juros e do IOF no acesso ao crédito e na saúde financeira dos pequenos negócios

11/07/2025 08h03
Crédito caro e inadimplência crescente ameaçam sobrevivência de micro e pequenas empresas no Brasil

Com os juros em alta e a inadimplência batendo recordes, micro e pequenas empresas enfrentam um cenário desafiador no Brasil. A taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, o maior nível dos últimos 19 anos, tem encarecido o crédito, dificultando a operação de negócios que dependem desse recurso para manter empregos, honrar compromissos e sustentar suas atividades.

Segundo dados do Banco Central, em maio de 2025, os empréstimos tomados por micro, pequenas e médias empresas somaram R$ 1,179 bilhão — alta de 11,6% em 12 meses. No entanto, esse aumento na busca por crédito tem como contrapartida uma inadimplência crescente, refletindo os efeitos da inflação persistente e da queda no consumo. Em abril, cerca de 90% dos pedidos de recuperação judicial partiram dessas empresas.

O economista Gesner Brehmer, mestre em Planejamento Territorial pela UEFS e doutorando em Economia pela UFBA, alerta para os dois principais efeitos do atual cenário.

“A combinação de juros altos e inadimplência impede o acesso ao crédito, que é fundamental para que as micro e pequenas empresas se mantenham no mercado, honrem suas contas e continuem gerando empregos”, explica. “A outra face do problema é a própria inadimplência, que desorganiza as finanças empresariais e pode iniciar uma bola de neve que leva ao fechamento da empresa.”

Segundo ele, a perda de acesso ao crédito é um dos primeiros sinais de colapso financeiro para um pequeno empreendedor.

“Você, que é micro ou pequeno empreendedor, sabe como é importante ter crédito disponível, seja para enfrentar um momento de dificuldade, seja para expandir seu negócio. Sem isso, o risco de falência aumenta consideravelmente.”

Gesner lembra que o setor representa a maior parte das empresas cadastradas no país e é um dos principais motores de geração de emprego e renda.

“Fechar uma empresa não é apenas uma questão empresarial, tem implicações sociais importantes. É renda que deixa de circular, compromissos que deixam de ser honrados, impacto direto na economia local.”

Além dos juros altos, o recente aumento no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) também encarece o crédito.

“O IOF é um imposto regulatório criado para monitorar o sistema financeiro, mas o governo tem usado seu aumento com fins arrecadatórios, para tentar compensar o déficit nas contas públicas”, aponta o economista.

“O problema é que isso impacta diretamente o custo do crédito. Ao encarecer a tomada de empréstimos, o IOF desestimula empresários a buscar esse recurso. E quando tomam, pagam mais caro, tanto na entrada quanto na devolução do valor emprestado. Isso dificulta ainda mais a vida de quem já está com o caixa apertado.”

Gesner defende iniciativas de crédito com aval público e taxas reduzidas como alternativa para ajudar esses empreendedores a atravessar o momento de crise.

“Em tempos de retração econômica, o consumo cai, a receita das empresas diminui e o fluxo de caixa se desorganiza. O crédito, nesse cenário, é uma ferramenta vital para manter o negócio de pé.”

Ele fez um alerta: “Se não houver planejamento e apoio adequado, muitos desses negócios vão sucumbir. E isso não é apenas um problema econômico, é uma questão de sobrevivência para milhares de famílias que dependem dessas empresas.”

*Com informações da repórter Isabel Bomfim

Comentários

Leia também

Economia
Secretário alerta para risco de retrocessos trabalhistas com tarifaço de Trump

Secretário alerta para risco de retrocessos trabalhistas com tarifaço de Trump

Felipe Freitas também criticou a revogação de vistos de autoridades brasileiras por...
Economia
Lula sanciona lei que cria programa de incentivo à exportação para micro e pequenas empresas

Lula sanciona lei que cria programa de incentivo à exportação para micro e pequenas empresas

Acredita Exportação prevê devolução de 3% sobre vendas ao exterior para negócios...
Economia
Governo zera imposto de importação de autopeças sem fabricação nacional equivalente

Governo zera imposto de importação de autopeças sem fabricação nacional equivalente

A alteração foi publicada na edição desta segunda-feira (28) do Diário Oficial da...