Cirurgia íntima: Ginecologista defende autoestima e desmistifica procedimentos ginecológicos
Dra. Márcia Suely lembra que o tema do quadro, “o que o espelho não vê”, é uma metáfora para o significado emocional dessas intervenções.
Durante mais uma edição do quadro Mulheres em Pauta, veiculado às sextas-feiras na Rádio Nordeste FM, a ginecologista Dra. Márcia Suely abordou um tema cercado de tabus: a cirurgia íntima feminina. Intitulado “Cirurgia íntima: o que o espelho não vê”, o episódio foi motivado pela polêmica nas redes sociais em torno da influenciadora Lícia Lopes, que compartilhou o resultado de sua ninfoplastia, procedimento que reduz os pequenos lábios, e acabou sofrendo críticas e ataques virtuais.
“Ao invés de ser considerada uma mulher corajosa por compartilhar a experiência, Lícia foi ridicularizada. Isso me fez refletir como ainda temos preconceitos absurdos quando o assunto é a região íntima da mulher”, afirmou Dra. Márcia.
A médica lembrou que a cirurgia íntima vai além da estética. “Ela é sobre autoestima, amor próprio e, sobretudo, saúde emocional. Muitas mulheres convivem anos com incômodos físicos e psicológicos por vergonha de falar sobre o assunto”, destacou.
A ninfoplastia, segundo a especialista, é apenas um dos vários procedimentos que se enquadram como cirurgia íntima. Entre os mais comuns estão:
- Capuzplastia: cirurgia no capuz do clitóris;
- Redução dos grandes lábios;
- Perineoplastia: correção da musculatura vaginal;
- Correções funcionais, como cirurgias para incontinência urinária;
- Retirada de plicoma anal, excesso de pele na região anal.
Dra. Márcia lembra que o tema do quadro, “o que o espelho não vê”, é uma metáfora para o significado emocional dessas intervenções.
“Quando a gente se olha no espelho, só vê o físico. Mas o que o espelho não mostra é a dor emocional de quem passou a vida inteira se escondendo, com vergonha do próprio corpo, achando que era menos mulher por ser diferente”, declarou.
A médica compartilhou o caso de uma paciente de 69 anos. “Ela me disse que passou a vida se sentindo inferior, achando a região íntima feia comparada às irmãs. O marido a apoiou e disse que, se ela se sentir melhor, ele também se sentirá feliz. Isso é sobre se sentir bem com você mesma”, completou.
A ginecologista reforça que os incômodos não são apenas estéticos. Há mulheres que relatam dor ao pedalar, dificuldade para usar roupas íntimas ou biquínis e até impacto na vida sexual.
“Muitas têm vergonha até de se sentar. Algumas me dizem que nunca conseguiram usar calça legging ou foram à praia só com saída de banho. São limitações reais que podem ser resolvidas com orientação e, se for o caso, cirurgia”, pontua.
Apesar de muitas mulheres chegarem ao consultório já decididas, há outras que jamais tocaram no assunto, nem mesmo com sua ginecologista de confiança.
“Tem aquela paciente que nunca falou com ninguém, mas que sofre calada. Por isso, sempre pergunto: ‘Há algo na sua região íntima que te incomoda?’. Muitas vezes, é nesse momento que ela desaba e revela algo que a incomoda há anos”, relatou.
Dra. Márcia fez questão de esclarecer os principais mitos que cercam os procedimentos ginecológicos estéticos.
- “Vai perder a sensibilidade” – Mito!: “Mesmo em cirurgias no clitóris, há técnicas específicas que preservam a inervação da região”.
- “A cirurgia dói muito” – Mito!: “A anestesia local é eficaz e geralmente as pacientes não sentem dor significativa. A recuperação costuma ser tranquila”.
- “É coisa de mulher vaidosa ou para agradar o parceiro” – Grande mito!: “É sobre saúde íntima, funcionalidade e bem-estar psicológico. Algumas mulheres nunca conseguiram dormir com a luz acesa de tanta vergonha”.
A médica reforça que o objetivo das cirurgias não é criar um padrão idealizado, como a chamada “vulva de Barbie”.
“É importante alinhar expectativas. Cada mulher é única e o objetivo é que ela se sinta bem com o próprio corpo, sem buscar um padrão artificial”.
Segundo Dra. Márcia Suely, não existe idade ideal, mas sim um momento emocional adequado.
“Já operei mulheres de 24 e de 69 anos. O que importa é a mulher estar emocionalmente preparada e convicta. Em casos de menores de idade, é essencial avaliação psicológica e autorização dos pais”.
A médica reforçou a importância da conversa aberta com o ginecologista e concluiu com um recado direto às mulheres.
“Se algo na sua região íntima te incomoda, não ache que precisa conviver com isso para sempre. Procure uma profissional capacitada. Seu corpo é seu templo. Cuidar dele é um ato de amor próprio”.