Ciência contra o medo: cardiologista esclarece mitos sobre vacinas e infarto
O médico afirmou que vacinas são fundamentais na prevenção de doenças cardiovasculares, como infarto e AVC.
Durante o quadro Momento IDM Cardio, o cardiologista Dr. Israel Reis abordou um tema sensível e cercado de polêmicas: qual a relação entre vacinas e infarto? Com base em dados científicos recentes e um consenso da Sociedade Europeia de Cardiologia, o médico afirmou que vacinas são fundamentais na prevenção de doenças cardiovasculares, como infarto e AVC.
“É preciso coragem para falar sobre esse tema hoje em dia. Vivemos um ambiente altamente politizado e ideológico. Quando um médico se posiciona sobre vacina, pode ser taxado de um lado ou de outro, mesmo que esteja apenas se baseando na ciência”, afirmou Dr. Israel.
Dr. Israel explicou que, recentemente, a Sociedade Europeia de Cardiologia incluiu a vacinação como o quarto pilar na prevenção de doenças cardíacas, ao lado do controle da pressão arterial, do colesterol e da glicemia.
“Esse consenso foi baseado em estudos e metanálises sérios. A vacinação agora é reconhecida como uma ferramenta de prevenção cardiovascular, especialmente contra infarto e AVC”, destacou.
O cardiologista lembrou que a inflamação causada por vírus como o da influenza ou bactérias como o pneumococo pode aumentar o risco de eventos cardiovasculares. Por isso, vacinas como a da gripe e a antipneumocócica são particularmente importantes para grupos de risco, como idosos e pessoas com histórico de problemas cardíacos.
“Quem já infartou, quem tem angina, quem tem insuficiência cardíaca: esses pacientes não podem correr o risco de pegar uma infecção respiratória grave. A gripe, por exemplo, pode descompensar completamente o quadro”, explicou.
Sobre a vacina da Covid-19, alvo de muitas dúvidas e fake news, o cardiologista foi direto: os dados científicos mostram que os casos de complicações foram extremamente raros diante do volume massivo de doses aplicadas.
“Foram 13,7 bilhões de doses aplicadas no mundo, mais de 70% da população mundial vacinada. Se a vacina fosse um risco tão grande como muitos dizem, teríamos visto uma tragédia sem precedentes. Mas isso não aconteceu”, pontuou.
Dr. Israel também comentou sobre as alegações de mortes ou eventos como trombose e miocardite supostamente ligados à vacina:
“A maioria das mortes atribuídas à vacina não tem comprovação científica de que foi realmente causada por ela. A inflamação causada pela própria infecção é muito mais perigosa. E sobre a miocardite, por exemplo, o número de casos foi muito pequeno, e a maioria leve e reversível.”
O médico lamentou que o debate sobre vacinas tenha sido capturado por discursos políticos extremados, dificultando a comunicação com os pacientes e com a população em geral.
“Eu mesmo, no consultório, preciso responder o tempo inteiro: ‘Doutor, essa vacina não vai me dar um infarto?’. As pessoas me encaminham vídeos, prints, casos isolados… Mas não podemos nos basear no que ouvimos de vizinhos ou no Instagram. Temos que olhar para os dados das agências reguladoras e das sociedades médicas sérias.”
Ele também criticou o silêncio de parte da comunidade médica, que teme represálias ao falar sobre vacinas.
“Muitos colegas têm medo de se posicionar, porque acham que serão chamados de ‘petistas’ ou ‘bolsonaristas’. Eu cobro até da Sociedade Brasileira de Cardiologia que se posicione mais. O médico precisa falar com base em ciência. Eu falo com base na minha prática: atendo milhares de vacinados, e nunca vi uma morte que eu pudesse atribuir diretamente à vacina.”
Dr. Israel também chamou a atenção para o aumento de mortes súbitas entre jovens, muitas vezes associadas de forma precipitada à vacinação.
“É preciso lembrar que, após a pandemia, temos mais jovens estressados, hipertensos, diabéticos, usando anabolizantes, testosterona, drogas para performance… Ninguém fala disso. Mas basta alguém morrer numa corrida para dizer que foi a vacina.”
Para o cardiologista, a mensagem que deve prevalecer é clara: vacinas, quando indicadas, são seguras e salvam vidas.
“Estamos falando de ciência, não de política. A vacinação é uma medida de saúde pública. Precisamos confiar nos dados, nas evidências, nas instituições que regulam esses medicamentos. Vamos parar de misturar alhos com bugalhos.”