Caso de jovem morto durante blitz começa a ser julgado em Feira de Santana
Audiência marcada por emoção e pedido por justiça reúne familiares e testemunhas do caso do jovem morto em ação da PM em 2022
Três anos após a morte de Marcelo dos Santos Rocha, conhecido como Marcelinho, a Justiça começou a ouvir as primeiras testemunhas do caso nesta segunda-feira (14), em Feira de Santana. O jovem foi morto durante uma ação da Polícia Militar em 2022. A versão oficial da PM sustenta que houve troca de tiros, mas familiares contestam e afirmam que Marcelo foi executado.
A primeira audiência foi marcada por emoção e pedidos por justiça. Familiares e advogados que acompanharam o caso desde o início começaram a ser ouvidos.
A mãe de Marcelo, Daniela Guerra, expressou sua luta para preservar a memória do filho e buscar justiça.
“Depois de ter sido executado, tentaram sujar o nome do meu filho. Isso me causa muita dor. Dói todo dia 21 de maio, dia do aniversário dele.”
Daniela relatou que a perda do filho foi como sepultar uma parte de si mesma. Ela descreveu o nascimento de Marcelo como um renascimento em sua vida — e a morte, como um momento em que algo essencial lhe foi arrancado.
“Quando Marcelinho nasceu, eu senti tanta dor que achei que ia morrer, mas naquele momento eu renasci com ele. Sempre disse que ele era minha força, mas no momento em que tive que sepultar meu filho, uma parte de mim também foi enterrada. Hoje eu apenas sobrevivo.”
Marcelo, segundo a mãe, nunca teve envolvimento com armas ou atividades criminosas.
“Ele jamais atiraria contra uma guarnição. Ele nunca teve arma. O que aconteceu foi uma execução, e ainda tentaram sujar o nome dele.”
Durante os últimos três anos, Daniela transformou seu luto em luta. Mobilizou-se com apoio de amigos e do Ministério Público, cobrando respostas e acompanhando cada passo do processo.
“Eu acredito na justiça, mesmo com todas as dificuldades. Estou com a verdade. A oração que fiz ali, com o rosto molhado no sangue inocente do meu filho, chegou ao céu e eu creio que ela se cumprirá aqui na terra.”
Em meio à dor, a esperança permanece como força motriz para Daniela, que deseja que um dia a ferida aberta possa cicatrizar.
“Minha esperança é que um dia essa dor vire saudade, mas por enquanto, ela sangra por dentro. Eu não desejo isso nem para as piores pessoas do mundo.”
*Com informações do repórter Matheus Gabriel