Saúde

“Autoconhecimento é chave para o prazer feminino”, afirma ginecologista

55% das mulheres brasileiras não sentem prazer.

06/06/2025 07h53
“Autoconhecimento é chave para o prazer feminino”, afirma ginecologista

A ginecologista Dra. Márcia Suely abordou um dos temas ainda considerados tabus na sociedade: o prazer feminino. Ela destacou a importância da educação sexual, do autoconhecimento e da quebra de paradigmas culturais e religiosos que historicamente reprimem a sexualidade da mulher.

“Apesar de toda essa liberação sexual que estamos vendo, ainda hoje 55% das mulheres brasileiras não sentem prazer. Isso é muita coisa, é mais da metade da população feminina”, afirmou a médica. “Esse é um tema forte, cercado de tabus. Mas é preciso falar sobre isso com clareza e respeito, porque interessa também aos homens.”

Ao falar sobre o prazer feminino, Dra. Márcia destacou o papel central do clitóris, que, segundo ela, ainda é um “mistério para muita gente”.

“O clitóris é um órgão exclusivamente voltado para o prazer. Deus criou um órgão só com essa função. Por que não falar sobre ele?”, questionou. “Muitas mulheres acham que é só aquele ‘botãozinho’ na parte superior da genitália, mas aquilo é só a ponta do iceberg. O clitóris envolve toda a vulva, a região genital e até a região anal. Ele tem 8 mil terminações nervosas – o dobro do pênis masculino – o que faz dele um órgão extremamente sensível.”

Ela lembrou que o prazer feminino não está restrito ao clitóris. “Nosso corpo todo pode dar prazer: é no toque, no ouvir, no olhar. Mas o clitóris é, sem dúvida, o órgão que executa esse prazer e é o responsável pelo orgasmo feminino, que é o ápice disso tudo.”

Para a ginecologista, a principal barreira para que muitas mulheres alcancem o prazer está na falta de autoconhecimento e nas repressões sofridas desde a infância.

“Somos ensinadas, desde cedo, que sentir prazer é feio. Eu mesma, quando minha filha era pequena e começou a se tocar, ouvi de meu marido que era para eu ir lá ver. Eu disse: ‘Não. Vou deixar’. Porque é natural. O prazer não pode ser reprimido desde cedo”, compartilhou.

Segundo ela, conhecer o próprio corpo é um passo fundamental para viver uma sexualidade saudável.

“Aprendam a se tocar, a identificar seus pontos de prazer. Não é o outro que tem que saber onde você sente prazer, é você. Isso começa no banho, no toque, na forma como você se olha. É o primeiro tabu que precisa ser quebrado.”

Respondendo a um ouvinte, Dra. Márcia explicou que não há uma distinção rígida entre o orgasmo vaginal e o clitoriano.

“Cada mulher sente de uma forma. O clitóris envolve toda a região genital, então o prazer pode vir de várias áreas. O mais importante é o autoconhecimento.”

Ela também ressaltou que o maior órgão sexual não é o clitóris, mas sim o cérebro. “Tudo começa ali. São nossos traumas, ansiedade, depressão, relacionamentos ruins, tudo isso interfere diretamente no desejo e no prazer.”

Dra. Márcia defendeu a educação sexual como ferramenta fundamental para mudar a realidade de repressão vivida por muitas mulheres.

“A falta de conhecimento sobre o corpo afeta diretamente a vida sexual. E é por isso que é tão importante que o ginecologista esteja preparado para abordar esse tema.”

Ela revelou que muitas pacientes só se sentem à vontade para falar sobre sexualidade dentro do consultório.

“Quantas vezes ouvi ‘Doutora, nunca falei isso com ninguém’. E é aí que está o nosso papel: acolher, orientar e desmistificar.”

A ginecologista também destacou que o ciclo da resposta sexual feminina tem fases específicas – desejo, excitação, platô, orgasmo e resolução – e que conhecê-las ajuda a entender o funcionamento do corpo.

Dra. Márcia Suely deixou um recado direto para as mulheres: “O prazer é seu. Comece por você. Não é egoísmo, é autocuidado. Toque-se, ame-se, olhe para você com carinho. E depois, compartilhe isso com o outro, mostrando onde e como você sente prazer. Sexo não deve ser conduzido apenas pelo parceiro. A mulher tem que dizer o que quer e o que gosta.”

E completou com um conselho para os profissionais de saúde: “Mesmo que não sejamos especialistas em sexologia, precisamos estudar, acolher e estar preparados para orientar. Porque o prazer feminino é saúde, e saúde é nosso campo de atuação.”

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