Economia

Aumento do IOF preocupa investidores e pode afetar competitividade do Brasil, avalia especialista

Assessor da XP Investimentos alerta para riscos de queda nos investimentos estrangeiros, encarecimento do crédito e impacto no agronegócio após decisão do ministro Alexandre de Moraes

19/07/2025 14h41
Aumento do IOF preocupa investidores e pode afetar competitividade do Brasil, avalia especialista

A recente decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que manteve o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre transações internacionais, gerou forte repercussão entre especialistas do setor econômico. Para Leandro Fabian, assessor de investimentos da Invest Smart XP, a medida pode desestimular investimentos estrangeiros, encarecer o crédito no Brasil e prejudicar setores estratégicos, como o agronegócio.

“O impacto é bem mais amplo do que só nos investimentos. Por exemplo, um fundo de investimento em direto prioritário, que era isento de IOF, agora passa a ter uma cobrança de 0,38% e todas as remessas internacionais passam a ter um imposto bem mais pesado”, explicou Leandro.

Segundo ele, o imposto sobre envio e recebimento de dólares, que antes era de 1,1%, passou para 3,5%.

“É um aumento substancial, que sinaliza uma arrecadação significativa para o governo, mas também representa um desestímulo para quem pretende enviar ou receber recursos do exterior. O investidor estrangeiro começa a olhar com mais cautela para o Brasil”, afirmou.

A medida pode ter reflexos diretos na entrada de capital estrangeiro no país. “Imagine um investidor americano com um projeto no Brasil. Para ele, agora, enviar dólares ficou mais caro. E o brasileiro que já tinha intenção de enviar dólares para fora, seja por diversificação patrimonial ou por negócios, também vai repensar”, analisou.

Leandro também destacou o efeito em cascata dessa decisão: “Essa estratégia de envio de capital ao exterior é uma forma que usamos para reduzir o risco Brasil. Agora, fica mais caro. Até uma compra no exterior com cartão de crédito vai sair mais cara, porque incide esse imposto. Isso afeta o consumidor comum também”.

O especialista criticou o que considera um ambiente de instabilidade para quem investe no Brasil. “O grande risco aqui é o da insegurança jurídica. O ministro não apenas manteve a medida, como aplicou de forma retroativa. Imagine você ser um investidor que planejou um investimento com base em um custo, e depois esse custo muda de surpresa. Isso afeta a confiança”, avaliou.

Ele comparou a situação com o cenário norte-americano. “Nos EUA, qualquer mudança precisa passar por todo um trâmite de aprovação no Congresso. Lá, não se governa por decreto. Por isso, a segurança jurídica é muito maior. Aqui, as regras mudam com muita facilidade”.

Essa instabilidade pode tornar o Brasil menos competitivo frente a outros países. “O agronegócio, por exemplo, que depende muito de crédito, deve sofrer bastante. Se o crédito encarece, a produção encarece. Isso pode se refletir no preço final dos produtos e até na inflação”, alertou.

Leandro acredita que a medida pode gerar um efeito dominó na economia. “Com crédito mais caro, o empresário vai pensar duas vezes antes de investir ou reinvestir. E, se ele já está inseguro, pode acabar repassando esse aumento para o consumidor final. Isso pode gerar retração no consumo, aumento da inflação e desaceleração da economia”, explicou.

O assessor também mostrou preocupação com o impacto sobre o setor exportador. “Ano passado, o agronegócio teve bom desempenho, mas mesmo assim registrou vários pedidos de recuperação judicial. Agora, imagine o que acontece se uma taxa de 20% a 30% a mais incide sobre exportações. É um setor muito sensível”.

Questionado sobre o atual cenário internacional, Leandro comentou o contexto do chamado “tarifaço” dos Estados Unidos.

“O estilo de negociação do Trump é sempre de subir muito a régua. Ele impõe tarifas elevadas para forçar acordos favoráveis. Isso exige do Brasil uma postura diplomática firme e cautelosa”, afirmou.

Segundo ele, o Brasil precisa entender que não é uma ilha. “Temos que saber negociar com os Estados Unidos, com a China, com a Europa. Nossa balança comercial é fortemente dependente de commodities, petróleo, aço e proteína. Qualquer movimento mal calculado pode gerar prejuízos enormes”.

Leandro reforçou a importância de acompanhar os desdobramentos das novas medidas com atenção. “Estamos entrando num momento de incertezas. É preciso observar como isso vai afetar a inflação, o consumo, o crédito e o investimento. Tudo isso ainda está se desenhando, mas os sinais são preocupantes”, concluiu.

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