Tradição e fé se encontram na confecção dos tapetes de Corpus Christi em Feira de Santana
Fiéis de diversas comunidades católicas se mobilizaram durante a madrugada para preparar os desenhos que marcaram a celebração, um ato que mistura devoção, trabalho coletivo e renovação espiritual.
Na madrugada fria desta quinta-feira (19), ruas de Feira de Santana se transformaram em verdadeiros corredores de fé e arte com a confecção dos tradicionais tapetes de Corpus Christi. Fiéis de diversas comunidades católicas se mobilizaram durante a madrugada para preparar os desenhos que marcaram a celebração, um ato que mistura devoção, trabalho coletivo e renovação espiritual.
Entre os grupos participantes, estava o Grupo Bem-Aventurado, representado pelo estudante Lucas Vinícius Coutinho. Ele e os colegas chegaram por volta das quatro da manhã. “Geralmente a gente chega duas ou três da manhã. Esse ano, chegamos às quatro”, contou.
Lucas explicou que os materiais utilizados são simples, mas exigem dedicação: “Estamos usando pó de serra, maravalha, café, cal, sal e pó de serra pintado com pó xadrez.” Ele participa da atividade há três anos e define o ato como uma forma de oração. “É uma maneira de colaborar com a instituição católica e com toda a arquidiocese. O trabalho é oração também.”
Já o professor Bruno Motta, que há 18 anos participa da confecção através do Grupo Mãe da Divina Providência, vinculado ao Terço dos Homens da Arquidiocese, ressalta o simbolismo do momento.
“Significa honrar o Corpo de Cristo e aquela que nos leva a Cristo, Maria, nossa mãe. É um prazer e uma honra muito grande estar aqui representando esse grupo”, destacou.
Bruno também chamou atenção para a escolha consciente dos materiais: “Preferimos não usar alimentos. Em um mundo onde tanta gente passa necessidade, usamos outras alternativas.”
A jovem Bárbara Catarine da Silva, operadora de caixa, vivenciou pela primeira vez a experiência de confeccionar os tapetes.
“Cheguei às seis horas. Foi cansativo, a coluna dói, o frio pega, mas vale muito a pena”, afirmou.
Para ela, o momento é de renovação da fé. “É uma experiência única, estou servindo à igreja e à comunidade. Como jovem, se eu pudesse, traria todo mundo. É muito bom!”
A solenidade de Corpus Christi contou com a presença do arcebispo metropolitano de Feira de Santana, Dom Zanoni Demettino Castro, que destacou o significado profundo da celebração.
“Corpus Christi é a expressão pública de que Jesus vive. Ele não ficou preso ao madeiro. Ele está presente na palavra, na comunidade reunida e no pão consagrado.”
Dom Zanoni também valorizou o protagonismo da juventude na tradição: “Feira de Santana tem resgatado com beleza essa prática. Os jovens têm se envolvido cada vez mais. Quando muitos dizem que a igreja perde fiéis, vemos aqui o contrário: cresce de maneira consciente, alegre e participativa.”
Ele lembrou que a fé se manifesta não só na celebração, mas também no compromisso com a comunidade: “Cada realidade assumida manifesta a bondade de Deus e hoje, publicamente, celebramos essa fé que transforma vidas.”
*Com informações do repórter Rafael Marques