Testosterona: solução ou cilada? Cardiologista alerta para os riscos do uso indiscriminado
Entre 2006 e 2018, houve um aumento de 670% na venda de esteroides anabolizantes no Brasil
O uso da testosterona e de esteroides anabolizantes tem crescido de forma alarmante no Brasil, e esse cenário preocupa especialistas da saúde. Durante o Momento IDM Cardio, quadro transmitido no programa De Olho na Cidade, da Rádio Sociedade News e Jornal do Meio Dia da Princesa FM, o cardiologista Dr. Israel Reis destacou os riscos do uso abusivo da substância e a necessidade de orientação médica criteriosa para a reposição hormonal.
“O uso de testosterona e de seus derivados tem indicação precisa, e a solução só é válida quando estamos diante de uma deficiência comprovada. No caso de um paciente com hipogonadismo primário, por exemplo, em que o testículo não consegue mais produzir testosterona, a reposição muda verdadeiramente a qualidade de vida”, explicou o especialista.
A testosterona bioidêntica, produzida a partir de compostos vegetais e semelhante à substância natural do organismo, é frequentemente prescrita para casos específicos, como em mulheres pós-menopausa com perda severa de libido e aumento de fadiga, mesmo após reposição de estradiol.
“Muitas mulheres relatam que foi a solução para elas, que tiveram uma grande melhora após a reposição hormonal”, acrescentou o cardiologista.
Porém, o grande alerta está no uso indiscriminado, que tem se tornado comum, muitas vezes sem acompanhamento médico.
“Trago um dado preocupante: entre 2006 e 2018, houve um aumento de 670% na venda de esteroides anabolizantes no Brasil e isso, na maioria dos casos, ocorre sem prescrição médica. Muitas pessoas compram por indicação de amigos, instrutores de academia ou influenciadores na internet”, alertou.
O uso recreativo de testosterona para ganho de massa muscular e melhora do desempenho físico ou sexual tem efeitos imediatos positivos, mas os danos a longo prazo são severos.
“Não há quem use testosterona e não se sinta bem no início. O problema é que os riscos são ignorados. Como cardiologista, vejo cada vez mais casos de pacientes jovens desenvolvendo hipertensão, alterações no colesterol e doenças graves do coração”, frisou.
Ele citou um estudo recente realizado na Dinamarca, que acompanhou 1.200 pacientes por 11 anos e revelou que o uso de esteroides anabolizantes triplica o risco de infarto e multiplica por nove as chances de desenvolver cardiomiopatia, uma doença do músculo cardíaco.
Outro ponto de preocupação é a fertilidade. O abuso de testosterona pode reduzir drasticamente a produção de espermatozoides, dificultando a concepção.
“Pacientes que usam esteroides anabolizantes muitas vezes enfrentam grandes desafios quando querem ter filhos. Isso ocorre porque o corpo entende que já tem testosterona suficiente e interrompe a produção natural, o que pode levar a um problema grave e de difícil reversão”, explicou.
Dr. Israel Reis ainda destacou que muitos dos efeitos negativos só aparecem quando o usuário tenta interromper o uso.
“A maioria desses pacientes relata que, ao tentar parar, sente fadiga extrema, perda de massa muscular e queda na libido. Isso acontece porque o organismo demora a retomar a produção natural do hormônio, gerando um ciclo vicioso que pode se tornar um caminho sem volta.”
O especialista finalizou com uma recomendação importante: “Antes de pensar em qualquer tipo de reposição, o ideal é tentar melhorar a produção natural de testosterona por meio de sono adequado, redução do estresse, atividade física e alimentação equilibrada. O uso indiscriminado pode trazer consequências irreversíveis à saúde”.