Tarifas dos EUA já causam prejuízos ao Brasil antes mesmo de entrarem em vigor, alertam empresários
Antes mesmo da efetivação da tarifa, importadores norte-americanos já começaram a cancelar pedidos de produtos brasileiros com receio da taxação em agosto
A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente Donald Trump e programada para entrar em vigor no dia 1º de agosto já provoca efeitos negativos sobre a economia brasileira. O alerta foi feito por representantes da indústria, do comércio e do setor de investimentos durante entrevista ao Jornal do Meio Dia, da Rádio Princesa FM.
Participaram do debate Genildo Melo, presidente da Associação Comercial de Feira de Santana; Geraldo Pires, presidente do Centro das Indústrias da cidade; e Leandro Fabian, assessor de investimentos da Invest Smart XP.
Segundo os convidados, antes mesmo da efetivação da tarifa, importadores norte-americanos já começaram a cancelar pedidos de produtos brasileiros com receio da taxação em agosto. Por outro lado, empresários do Brasil estão interrompendo ou adiando a produção, sem saber se conseguirão vender o que já está pronto.
“Não há como negar: os prejuízos já começaram. Empresas que exportam diretamente para os EUA estão em alerta. Muitos produtos já estão nos portos e os empresários simplesmente não sabem o que fazer”, afirmou Genildo Melo.
O presidente da Associação Comercial ressaltou que a única saída possível é a negociação diplomática.
“Já existe uma comissão presidida pelo vice-presidente Geraldo Alckmin ouvindo lideranças do agronegócio e da indústria para buscar soluções. A única alternativa é sentar à mesa e negociar com os americanos”, completou.
Para Geraldo Pires, a indústria está entre os setores mais afetados. Ele destaca que, além da queda nas exportações, há o risco de sobreoferta no mercado interno, o que pode derrubar ainda mais os preços e afetar a rentabilidade das empresas.
“Há empresas já estudando redirecionar a produção para outros estados ou países. Mas isso não é simples, ainda mais quando se trata de produtos perecíveis como laranja, carne ou cacau. Tem que haver suporte do governo, com crédito e renegociação de tributos, como foi feito durante a pandemia”, pontuou.
Feira de Santana também sente diretamente os reflexos da crise. A cidade abriga uma fábrica de aviões leves esportivos, que já exportou oito aeronaves para os Estados Unidos e tem novas entregas previstas justamente para o período de início da taxação. A empresa vive dias de incerteza.
Leandro Fabian, por sua vez, explicou que a instabilidade também afeta o setor de investimentos e o acesso ao crédito.
“Quando a incerteza domina, a primeira reação dos empresários é postergar investimentos. Isso impacta o crescimento, o emprego e o consumo. Se o empresário não tem previsibilidade, ele paralisa decisões importantes”, analisou.
“A insegurança no comércio internacional afeta também o pequeno produtor. A arroba do boi, por exemplo, já vem operando no limite do custo de produção. Se parte da exportação for inviabilizada, o mercado interno ficará sobrecarregado e o preço pode cair ainda mais”, alertou.
Os especialistas também criticaram a falta de diplomacia nas tratativas.
“O radicalismo não leva a lugar nenhum. Tem que haver ponderação técnica e política. A diplomacia precisa atuar com urgência para evitar mais prejuízos. As palavras e atitudes agora precisam ser bem pesadas”, disse Geraldo Pires.
Genildo Melo acredita que, apesar das declarações duras dos líderes políticos, há negociações nos bastidores:
“Claro que as falas públicas muitas vezes são para fortalecer a imagem política, mas acredito que diplomatas dos dois países já estão conversando. Confio muito no papel do vice-presidente Alckmin. Alguma coisa boa deve sair ainda neste mês.”
Leandro Fabian deixou uma mensagem para os empreendedores da região:
“A crise assusta, mas também cria oportunidades. Quem tiver equilíbrio emocional e capacidade de se adaptar, pode até crescer. Mas é preciso filtrar o ruído e focar no que se pode controlar. Planejamento e cautela são essenciais.”