Sexóloga desvenda tabus e desinformação sobre a saúde sexual masculina
Especialista aborda disfunções sexuais, impacto da pornografia, preconceitos sobre o toque retal e a importância da educação sexual no cuidado masculino.
Durante a campanha Novembro Azul, o foco está não apenas na prevenção do câncer de próstata, mas também na desconstrução de tabus relacionados à sexualidade masculina. A sexóloga e psicóloga clínica Gilma Mascarenhas abordou temas como disfunção sexual, o impacto da desinformação e o papel das redes sociais na construção da masculinidade moderna.
“A disfunção sexual é multifatorial. Ela pode ter causas fisiológicas ou psicossomáticas. Em cerca de 70% dos casos que tratamos, a origem é psicossomática, enquanto os outros 30% cabem aos urologistas e andrologistas.” Segundo a especialista, o tratamento adequado exige olhar para além do físico, abordando os fatores emocionais e psicológicos.
Gilma destacou que não há uma idade específica para o surgimento de disfunções sexuais: “Atendo pacientes de 18 a 45 anos e também de 60 a 70 anos. Hoje, um fator preocupante é o uso de drogas recreativas, muitas vezes associado à pressão social e à falta de educação sexual.”
A especialista critica a ausência de educação sexual nas escolas e nos lares, o que deixa os jovens vulneráveis a informações distorcidas.
“A maioria dos adolescentes busca respostas no Google, baseando-se em mitos sobre potência e desempenho sexual. Isso leva ao uso indiscriminado de medicamentos e cria um ciclo de ansiedade e frustração”, alerta.
Gilma também destacou o impacto da cultura patriarcal, que perpetua a ideia de que “homens nunca falham”. Ela enfatiza: “Esse pensamento gera vergonha e alimenta as disfunções, que são, na maioria das vezes, questões mentais. Quando tratamos a mente, o corpo tende a funcionar livremente.”
A pornografia, segundo Gilma, é uma das principais queixas no consultório. “Ela cria um padrão irreal de perfeição, tanto do corpo quanto do desempenho, o que fragiliza a autoestima dos homens. Muitos recorrem a medicamentos ou outras substâncias para tentar se adequar a esses padrões.” A solução, segundo a sexóloga, está em redirecionar o prazer para fantasias pessoais e criar uma relação mais saudável com a sexualidade.
Outro tema sensível é o preconceito em relação ao exame de toque retal, essencial na detecção precoce do câncer de próstata. Gilma revelou dados alarmantes: “Apenas 18% dos homens entre 40 e 50 anos realizam o exame, porque associam o toque retal à sexualidade. Isso reflete a desinformação e a cultura machista que ainda prevalecem.”
Para os homens que enfrentam dificuldades sexuais e têm receio de procurar ajuda, Gilma deixa um recado: “Converse com alguém de confiança ou procure um profissional especializado. Quanto mais cedo o problema for identificado, maior a chance de resolvê-lo. Muitas vezes, questões aparentemente simples podem ser resolvidas com orientações adequadas.”
Por fim, a especialista reforça a importância de desmistificar temas relacionados à sexualidade masculina: “A educação sexual deve ir além da prevenção de doenças e gravidezes. É sobre empoderar as pessoas no processo da sexualidade, ajudando-as a superar medos e preconceitos.”