Saúde mental e dupla jornada: Psicóloga orienta como as mulheres podem encontrar equilíbrio
Houve um aumento de 68% nos afastamentos por transtornos emocionais no Brasil entre 2023 e 2024, com quase meio milhão de casos registrados apenas neste ano.
A sobrecarga da rotina, a pressão social e a necessidade de desempenhar múltiplos papéis têm levado um número crescente de mulheres ao esgotamento mental. Segundo dados recentes, houve um aumento de 68% nos afastamentos por transtornos emocionais no Brasil entre 2023 e 2024, com quase meio milhão de casos registrados apenas neste ano.
Diante deste cenário preocupante, a psicóloga Ana Elisa Gomes, mestra e doutoranda em Saúde Mental Coletiva pela Universidade Estadual de Feira de Santana e docente da Unex, trouxe reflexões sobre como as mulheres podem evitar esse desgaste.
“A gente vem passando por transformações sociais que atravessam diretamente nosso estado de saúde mental. E, como você mesmo trouxe, as mulheres têm essa dupla jornada. A sociedade espera muito da performance da mulher, da atuação dela. Se não há um equilíbrio entre essas demandas, elas acabam adoecendo”, pontua Ana Elisa.
Os efeitos da exaustão mental vão além do emocional, refletindo diretamente na vida profissional, pessoal e física das mulheres.
“Quando a saúde mental não está equilibrada, isso se reflete em outras áreas. Falta de concentração, problemas de sono, irritabilidade e perda do prazer em atividades antes prazerosas são alguns dos sinais”, explica a especialista.
Um ponto fundamental é diferenciar um cansaço comum de um esgotamento extremo. “Quando estamos cansadas dentro da normalidade, conseguimos nos recuperar com um descanso adequado. No caso do esgotamento, por mais que a gente descanse, não sentimos alívio. A exaustão se prolonga, e isso impacta diretamente nosso desempenho e bem-estar”, alerta Ana Elisa.
Para lidar melhor com as exigências do dia a dia, a organização do tempo e o autocuidado são essenciais.
“Criar uma rotina com horários estabelecidos é uma maneira de sentir que temos algum controle sobre as situações. Outra questão fundamental é aprender a dizer não. Nós, mulheres, muitas vezes nos sentimos na obrigação de dar conta de tudo, mas precisamos entender nossos limites”, ressalta a psicóloga.
Pequenas pausas para atividades prazerosas também fazem diferença. “Ouvir uma música, ler um livro, assistir a um programa de TV ou simplesmente dar um passeio podem ajudar a aliviar a tensão e trazer equilíbrio. O importante é que cada mulher encontre o que funciona melhor para ela”, indica Ana Elisa.
Buscar ajuda psicológica também pode ser um caminho para enfrentar a sobrecarga. “A terapia é um espaço seguro, onde a mulher pode ser acolhida sem julgamentos. Ela ajuda a ressignificar o papel da mulher na sociedade e a desenvolver estratégias de enfrentamento para lidar com as demandas diárias”, explica a psicóloga.
Além disso, contar com uma rede de apoio é essencial. “Ter pessoas com quem podemos contar nos momentos difíceis faz toda a diferença. Relacionamentos saudáveis nos dão segurança para pedir ajuda quando necessário”, destaca Ana Elisa.
Para aquelas que se sentem sobrecarregadas e não sabem por onde começar, Ana Elisa reforça a importância do autocuidado.
“Autocuidado não é apenas fazer a unha ou o cabelo, mas também organizar sua rotina mental. Se não cuidamos da nossa saúde emocional, chega um momento em que fica insuportável lidar com os sentimentos. Cuidem-se, tirem um tempo para vocês, porque só assim conseguirão cuidar dos outros”, finaliza.