Saúde mental da mulher: Especialistas apontam os impactos dos desafios diários e a busca pelo equilíbrio
A saúde mental feminina precisa ser mais discutida, compreendida e acolhida, e as mulheres devem ser incentivadas a buscar ajuda sempre que necessário, sem receio de julgamentos.
O mês de janeiro é marcado pela campanha Janeiro Branco, que foca na conscientização sobre a saúde mental, com ênfase na importância do autoconhecimento e do cuidado com o bem-estar psicológico. Para discutir a relevância desse tema, o programa Cidade de Pauta recebeu duas profissionais que têm se dedicado a compreender e cuidar da saúde das mulheres: a ginecologista Dra. Márcia Soeli e a psicóloga e sexóloga Tatyane Varjão.
Ao lado de Tatyane, Dra. Márcia explicou a importância da parceria entre ginecologia e psicologia.
“Nós trabalhamos muito pertinho uma da outra, temos uma parceria muito grande em várias áreas da saúde mental da mulher,” afirmou. Para ela, o início do ano é um momento crucial para refletir sobre os desafios que as mulheres enfrentam e sobre como reprogramar a vida de maneira saudável.
Tatyane Varjão, por sua vez, destacou que o Janeiro Branco é, na prática, um convite ao autoconhecimento.
“Ao olhar para dentro, você vai entender como você pensa as situações, como você sente as situações e como você se comporta diante delas. E é exatamente isso que queremos refletir: o que afeta a saúde mental das mulheres e como podemos agir para melhorar essa saúde?”, comentou.
Para Tatyane, existem fatores que afetam profundamente a saúde mental das mulheres, como a pressão social por padrões de perfeição.
“Hoje, a mulher é pressionada a ser excelente em tudo: mãe, profissional, amiga, esposa… A sociedade cobra que estejamos sempre lindas e sorridentes, e isso é um peso enorme,” explicou. Ela acredita que esses fatores sociais contribuem significativamente para o adoecimento mental das mulheres, desencadeando quadros de ansiedade e inseguranças não nomeadas.
Uma questão que também foi abordada na conversa foi o impacto hormonal, especialmente em mulheres na menopausa. Dra. Márcia, que tem acompanhado muitas pacientes nessa fase, enfatizou que não se trata apenas de alterações hormonais, mas também da pressão pela performance e pela manutenção da juventude.
“Essa cobrança da sociedade de que a mulher deve continuar ‘nova’ e ‘perfeita’ é um peso enorme. Muitas das minhas pacientes me dizem ‘estou velha, não presto mais para nada’, e isso impacta diretamente na saúde mental,” comentou.
Tatyane complementou, abordando o processo de envelhecimento de maneira mais profunda. “O que é a velhice? Perda. Somos ensinadas a não perder nada, mas, com o tempo, temos que lidar com perdas – do corpo, da energia, da aparência – e isso gera um desconforto profundo, pois muitas vezes nos sentimos ‘estranhas em nosso próprio ninho’,” disse Tatyane.
A importância do autocuidado também foi um ponto central da conversa. As duas profissionais destacaram que muitas mulheres, ao longo da vida, acabam negligenciando suas próprias necessidades em função do cuidado com os outros.
“Quando a gente vai para o avião e o comandante fala ‘coloque a sua máscara primeiro’, é um lembrete de que precisamos cuidar de nós mesmas para poder cuidar dos outros. Mas muitas mulheres têm dificuldade de priorizar isso, e isso precisa ser mudado,” afirmou Dra. Márcia.
Tatyane acrescentou que a chave para um equilíbrio saudável está no reconhecimento das próprias necessidades e na busca por uma rede de apoio.
“É preciso entender a fase da vida em que você está e buscar novos hábitos. A atividade física, por exemplo, deve ser entendida como um ato de autocuidado, não como uma obrigação imposta pela sociedade,” completou.
As profissionais reforçaram a importância de uma abordagem integrada, que considere tanto a saúde física quanto a mental.
“Como ginecologista, entendo que a saúde mental não pode ser negligenciada. Muitas mulheres precisam de apoio psicológico, especialmente quando enfrentam questões como TPM, menopausa, ou mudanças hormonais. O acompanhamento multidisciplinar é essencial para garantir o bem-estar das mulheres,” disse Dra. Márcia.
A Dra. Márcia Suely ressaltou a relevância de que a ginecologia vá além da prevenção de doenças físicas e inclua o cuidado com a saúde mental das mulheres.
“Hoje, o ginecologista não é apenas o profissional que cuida da prevenção de cânceres ou doenças ginecológicas. Ele também precisa estar atento à saúde mental, pois doenças como ansiedade e depressão são muito comuns no meu consultório”, afirmou.
Para ela, é importante que os profissionais da área de saúde incentivem a procura de apoio psicológico para proporcionar um tratamento mais completo e eficaz.
“Muitas mulheres não têm consciência de que podem estar sofrendo de transtornos como a depressão ou o transtorno de ansiedade generalizada, e é essencial que elas saibam que há ajuda disponível”, completou.
Tatyane Varjão complementou a fala de Dra. Márcia, destacando o impacto negativo da pressão social sobre as mulheres.
“Precisamos construir espaços de diálogo onde as mulheres possam se sentir seguras para abordar suas questões emocionais. Muitas vezes, a sociedade ainda coloca a mulher em um papel de ‘superheroína’, sem espaço para que ela possa expressar suas fragilidades”, explicou. “As mulheres não precisam esperar até chegar ao fundo do poço para buscar ajuda. Se perceberem que algo está errado, como cansaço excessivo, tristeza persistente ou dificuldades em realizar tarefas do dia a dia, é crucial procurar ajuda o quanto antes”, enfatizou.
A psicóloga também destacou a importância de se reconhecer sinais de transtornos como a depressão, que em mulheres pode se manifestar de formas atípicas.
“A depressão feminina pode aparecer com compulsão alimentar, sonolência excessiva e falta de energia, por exemplo. Essas são situações que exigem atenção imediata, e não se deve esperar para procurar tratamento”, alertou.
O debate também incluiu o mito de que problemas de saúde mental são sinal de fraqueza ou ‘frescura’, um estigma que ainda persiste em muitas partes da sociedade. Dra. Márcia e Tatyane concordaram que é fundamental desmistificar esse pensamento e tratar a saúde mental com a mesma seriedade que a saúde física. “Não se trata de ser ‘doida’, mas de estar em sofrimento. Buscar ajuda é um sinal de força e autocuidado”, reforçou Tatyane.
Ao final da conversa, ambas reforçaram a importância de se manter o autocuidado e de encarar as fases da vida, como a menopausa e o envelhecimento, com qualidade de vida.
“Envelhecer faz parte do ciclo da vida, e devemos encarar isso de forma positiva, buscando sempre o equilíbrio entre saúde mental, emocional e física”, concluiu Tatyane.