Proibição de implantes hormonais pela Anvisa gera preocupação entre médicos
Ação da Anvisa gera debate entre médicos e pacientes sobre a autonomia médica e opções de tratamento
A recente decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspender a manipulação, comercialização, propaganda e uso de implantes hormonais, conhecidos popularmente como “chips da beleza”, tem causado grande debate no meio médico e preocupação entre os pacientes. Em entrevista ao quadro Saúde em Pauta do programa Cidade em Pauta (Rádio Nordeste FM), o cirurgião plástico Dr. Marcus Marcel e a nutróloga Aline Jardim discutiram os impactos da medida e questionaram a forma como a proibição foi implementada.
“A cada dia que passa, está sendo retirada nossa autonomia como médicos para prescrever o que achamos melhor para a qualidade de vida dos nossos pacientes”, desabafou o Dr. Marcus Marcel. A medida, coincidentemente anunciada durante a semana do Dia do Médico, atinge especialmente aqueles que utilizam os implantes para tratamentos de saúde, como reposição hormonal em casos de endometriose e hipogonadismo. “A proibição da via subcutânea impacta diretamente pacientes que, comprovadamente, se beneficiam desses tratamentos”, afirmou o cirurgião.
A Dra. Aline Jardim, nutróloga, explicou que os implantes hormonais, amplamente utilizados desde 1937, têm sido validados por instituições internacionais, como o FDA, e são respaldados por estudos que apontam baixa incidência de complicações.
“Estamos falando de um tratamento seguro, com evidência científica. A proibição da Anvisa foi baseada em relatos sem comprovação científica sólida”, destacou ela, referindo-se ao fato de que muitos dos argumentos utilizados pela Anvisa vieram de relatos em redes sociais, sem análise criteriosa dos casos.
A polêmica se acentuou devido à forma pejorativa com que os implantes ficaram conhecidos no Brasil, sendo chamados de “chip da beleza”, o que, segundo os médicos, distorce o verdadeiro objetivo terapêutico do tratamento.
“É uma via que nós utilizávamos muito porque sabíamos que existem poucas maneiras de reposição hormonal eficazes e agora, com essa proibição, muitas mulheres estão ficando desassistidas”, lamentou Dra. Aline.
Riscos da alternativa oral
Outra preocupação levantada foi sobre os efeitos colaterais de outras formas de reposição hormonal, como a via oral. O Dr. Marcus Marcel apontou que o uso de hormônios por via oral aumenta significativamente o risco de eventos tromboembólicos, como tromboses.
“Imagine uma paciente que está em tratamento para endometriose e não pode mais utilizar os implantes subcutâneos, tendo que recorrer à via oral, que tem comprovado risco de complicações”, alertou ele.
Impacto na qualidade de vida
A decisão da Anvisa já começa a afetar a qualidade de vida de muitos pacientes, especialmente mulheres na menopausa ou com doenças como endometriose.
“Muitas das minhas pacientes estão desesperadas, perguntando o que será delas sem o tratamento que funcionou por anos”, relatou Dra. Aline. A médica ainda explicou que, apesar da existência de outras opções, como o uso de cremes transdérmicos, algumas pacientes não respondem adequadamente a essas alternativas.
Diante dessa situação, os médicos estão se mobilizando para reunir mais evidências científicas e tentar reverter a proibição.
“Estamos buscando levantar toda a literatura científica que comprova a segurança dos implantes hormonais para apresentar à Anvisa. Esperamos que essa decisão seja revista, pois estamos tratando de saúde, e não de estética”, enfatizou Dr. Marcus.