Patrimônio histórico: desafios e oportunidades para preservação em Feira de Santana
Durante a entrevista, o arquiteto fez um apelo para que a cidade valorize mais seu patrimônio.
Feira de Santana é uma cidade marcada por seu crescimento econômico, expansão imobiliária e rica história cultural. Contudo, como muitas cidades brasileiras, enfrenta o desafio de equilibrar desenvolvimento e preservação de seu patrimônio histórico. Este foi o tema de uma conversa com o arquiteto Marcelo Santos de Faria, que compartilhou sua experiência em preservação e restauração de edifícios históricos.
Marcelo, formado pela FAU-RJ, tem mais de 15 anos de carreira dedicados à preservação do patrimônio histórico. Entre seus projetos destacam-se a restauração do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e a modernização da Fazenda São Luís da Boa Sorte. Desde 2013, está na Bahia, onde atuou como consultor da UNESCO e do IPHAN. “Para mim, é uma alegria falar de um tema tão importante como a preservação do patrimônio histórico”, afirmou o arquiteto.
Segundo Marcelo, Feira de Santana possui um cenário desafiador, mas também promissor. “O centro histórico, com casarões no entorno da Igreja da Matriz e do Mercado de Arte, precisa de mais manutenção e conservação. A cultura da preservação é essencial para evitar a degradação natural do tempo”, explicou.
O arquiteto destacou que o uso funcional dos imóveis é uma das melhores estratégias para sua preservação. “Quando há uso, há manutenção. Se você está atento ao telhado, às esquadrias e à estrutura, evita problemas maiores, como infiltrações ou risco de incêndio”, disse.
Ele também chamou atenção para o impacto da expansão imobiliária na cidade. “Feira tem exemplares modernistas incríveis que estão ameaçados. É fundamental documentar, fotografar e registrar o patrimônio, porque o desenvolvimento urbano inevitavelmente causa perdas, como a demolição da Casa Suspensa, projetada pela arquiteta Amélia Amorim. Foi uma perda significativa para a cidade”, avaliou.
Preservação e desenvolvimento: um equilíbrio necessário
Marcelo defendeu a atualização do plano diretor do município como ferramenta para equilibrar expansão urbana e preservação histórica. “É importante que a sociedade civil, o poder público e os especialistas conversem para orientar o crescimento da cidade, evitando o apagamento da memória histórica. O desenvolvimento deve ser pensado e repensado, sempre preservando a identidade local”, destacou.
Ele também ressaltou a necessidade de maior conscientização da população sobre o valor do patrimônio histórico. “A educação patrimonial deve começar nas escolas, ensinando crianças e adolescentes a importância de preservar nossa história. Assim como cuidamos de nossos avós, precisamos cuidar de nossa arquitetura histórica”, comparou.
Marcelo explicou que a preservação do patrimônio no Brasil é regida pelo Decreto-Lei 25, que protege bens históricos em nível federal. Estados e municípios adaptam essa legislação conforme suas realidades locais. “É essencial que os projetos de restauração sejam feitos por técnicos qualificados e aprovados pelos órgãos responsáveis, como IPHAN, IPAC e secretarias municipais. A modernização é possível, mas sempre com planejamento e respeito à história”, afirmou.
Durante a entrevista, o arquiteto fez um apelo para que a cidade valorize mais seu patrimônio. “Quando viajamos, nos encantamos com a preservação de cidades como Paris, Lisboa ou Roma. Lá, vemos edificações de séculos preservadas. Aqui, precisamos aprender a valorizar o que temos para construir uma identidade que integre o passado e o futuro”, finalizou.