Outubro Rosa: Especialista aborda os impactos do câncer de mama na sexualidade e autoestima das mulheres
Dra. Anne Stephany trouxe à tona questões pouco discutidas sobre como a autoestima, o bem-estar e a identidade feminina são profundamente impactados ao longo do tratamento e recuperação do câncer de mama.
Em entrevista durante a série especial do Outubro Rosa, a médica especialista em qualidade de vida, sono e sexologia, Dra. Anne Stephany, destacou a complexa relação entre câncer de mama e a sexualidade feminina. Com uma abordagem acolhedora e sensível, Dra. Anne trouxe à tona questões pouco discutidas sobre como a autoestima, o bem-estar e a identidade feminina são profundamente impactados ao longo do tratamento e recuperação do câncer de mama.
“Quando falamos de sexualidade, não estamos nos referindo apenas a sexo, mas ao bem-estar, à autoestima e a como a mulher se percebe e se empodera”, explicou a médica. A retirada ou mutilação de uma mama afeta diretamente a autoestima feminina, que vê nessa região do corpo um símbolo de feminilidade e identidade.
“Existem estudos que mostram que a primeira área que uma mulher cobre ao ser exposta não é a genitália, mas o colo da mama. Para a mulher, a sexualidade é o toque, a sensação de ser vista e de se sentir bem consigo mesma”, detalhou.
A médica também apontou que muitas mulheres que enfrentam o câncer evitam abordar o tema da sexualidade por se sentirem desgastadas ou sem energia para investir em uma vida sexual ativa. Além disso, o tratamento em si pode causar alterações no corpo, como perda de libido, ressecamento vaginal e até dores durante as relações sexuais.
“É uma série de fatores que mexem com a sexualidade feminina. Às vezes, a mulher não consegue ter energia para pensar nisso, pois há um turbilhão de pensamentos e preocupações já ocupando sua mente”, acrescentou.
Outro aspecto essencial destacado por Dra. Anne é o papel do apoio emocional e psicológico durante o processo de tratamento. Muitos relacionamentos enfrentam desafios adicionais quando o parceiro não compreende as necessidades e mudanças que a parceira está vivendo.
“Nem sempre o parceiro consegue acolher esse momento delicado da mulher. A palavra-chave aqui é acolhimento, porque a sexualidade, para essa mulher, vai muito além do ato em si; envolve se sentir bem e desejada”, afirmou.
Em busca de apoiar essas mulheres na recuperação de sua autoestima, o Instituto Salt, onde a doutora Anne atende, desenvolveu iniciativas como a parceria com uma tatuadora de aréolas para mulheres que passaram por mastectomia.
“É um processo de ressignificação muito importante, porque ajuda essa mulher a reencontrar parte de sua identidade e autoestima.”
Segundo Dra. Anne, ignorar a sexualidade durante o tratamento de câncer é negligenciar um aspecto crucial da medicina do estilo de vida e da qualidade de vida da paciente.
“A doença, sim, é importante, mas não podemos esquecer da saúde emocional e do equilíbrio dessa mulher. Uma rede de apoio que acolhe e compreende as dores emocionais pode inclusive influenciar positivamente no prognóstico e no sucesso do tratamento.”
O Outubro Rosa, mês dedicado à conscientização do câncer de mama, é uma oportunidade para ampliar essa discussão e trazer à luz temas essenciais para a qualidade de vida das mulheres em tratamento. Dra. Anne reforça que o papel dos profissionais de saúde e das redes de apoio é fundamental para que essa mulher se sinta amparada, não só fisicamente, mas também emocionalmente, durante todas as etapas de sua recuperação.
“É preciso acolher cada dor emocional e vulnerabilidade dessa mulher, pois um estilo de vida equilibrado é um dos grandes fatores para o sucesso do tratamento”, concluiu Dra. Anne Stephany.