“No Conclave, não há lobby nem campanha”, diz cardeal mais velho do Brasil em Roma sobre sucessão papal
Para ele, não há espaço para articulações políticas ou alianças pré-estabelecidas como nas eleições comuns.
Em meio às especulações sobre quem poderá ser o próximo Papa, uma voz experiente se destaca entre os corredores silenciosos do Vaticano. Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida e o cardeal brasileiro mais velho no Conclave, falou sobre os bastidores da escolha do novo Papa. Aos 88 anos, ele já participou do Conclave que elegeu o Papa Francisco e hoje compartilha com serenidade e autoridade os detalhes de um processo que continua envolto em oração, discernimento e mistério.
Nos últimos dias, nomes como o do brasileiro Dom Sérgio da Rocha — atual arcebispo de Salvador e primaz do Brasil — têm sido mencionados entre os possíveis candidatos ao papado. Também ganha força nos bastidores italianos a ideia de um retorno ao “papa italiano”, algo que não acontece há quase 50 anos, desde o breve pontificado de João Paulo I, falecido 33 dias após ser eleito em 1978.
Dom Raymundo, contudo, freia as expectativas. “É muito difícil dizer quem será o próximo Papa”, afirmou. “O Conclave tem uma representatividade muito grande, com cardeais do mundo inteiro. Passamos mais de três dias nas congregações gerais ouvindo uns aos outros. Cada um faz seu discernimento na oração, na meditação, na reflexão, diante de Deus e da própria consciência.”
Para ele, não há espaço para articulações políticas ou alianças pré-estabelecidas como nas eleições comuns.
“Esse processo não é como uma eleição da sociedade em geral, com chapas, comícios, troca de interesses. No Conclave não existe ‘toma lá, dá cá’. Os cardeais entram totalmente livres. Não há contato com o exterior, nenhum meio de comunicação. É um espaço de recolhimento, silêncio e oração.”
Sobre as possibilidades de se ter novamente um Papa italiano, o cardeal foi direto: “Claro que há esse desejo por parte de alguns. Os italianos têm grande peso no Colégio Cardinalício. Mas o Espírito sopra onde quer. Francisco foi uma surpresa para todos. Ele não estava em nenhuma lista dos jornalistas ou casas de apostas. No entanto, foi o escolhido.”
A famosa máxima romana que diz “Quem entra Papa, sai cardeal” — uma referência à imprevisibilidade da escolha — foi lembrada com bom humor por Dom Raymundo: “Às vezes entra papa e sai papa também, mas temos que contar com as surpresas e a maior delas foi o Papa Francisco.”
Para o cardeal, o papel do novo Papa será, como sempre, de profunda responsabilidade espiritual e pastoral.
“A Igreja é obra de Deus. Cristo a confiou aos apóstolos, tendo São Pedro como cabeça. O Papa é o vigário de Jesus Cristo, o princípio da unidade da fé. É por isso que não podemos prescindir da ajuda divina. É preciso deixar que o Espírito Santo conduza essa escolha, para que ela seja segundo o coração de Deus.”
Dom Raymundo reforça que mais do que estratégias humanas, o que se espera no Conclave é um Papa com fé sólida, espírito de serviço e capacidade de guiar a Igreja num tempo de grandes transformações. “É a oração que sustenta esse processo e é Deus quem, no fim, indica o caminho.”
*Com informações de Jorge Biancchi, direto de Roma