Neuroarquitetura: como os espaços influenciam emoções, saúde mental e até a recuperação física
Os espaços podem afetar diretamente o comportamento, as emoções e até o processo de cura das pessoas.
A relação entre ambiente e bem-estar foi o tema da entrevista com a arquiteta Karla Carvalho, especialista em neuroarquitetura, concedida ao Jornal do Meio Dia, no quadro Home News. Durante a conversa, ela explicou como os espaços podem afetar diretamente o comportamento, as emoções e até o processo de cura das pessoas.
“A neuroarquitetura é a junção da arquitetura com a neurociência. A gente estuda como os espaços físicos afetam as emoções, o cérebro e o comportamento. Tudo no ambiente influencia, cores, texturas, ruídos, iluminação, e isso pode ocorrer de forma consciente ou inconsciente”, explicou.
Segundo a especialista, a neuroarquitetura busca ativar positivamente o maior número possível de sentidos humanos, indo além dos cinco tradicionalmente conhecidos.
“A intenção é atingir positivamente o máximo de sentidos. Trabalhamos com iluminação, texturas, sons e até elementos naturais, por meio da biofilia, que é trazer o meio natural para dentro da arquitetura — plantas, madeira, formas orgânicas”, detalhou.
Karla ressalta que, diferente da arquitetura tradicional, em que muitos elementos são usados apenas com foco técnico ou decorativo, a neuroarquitetura busca propósito emocional e funcional em cada escolha.
“Na neuroarquitetura, tudo tem um porquê. A iluminação, por exemplo, não é só técnica. Ela tem poder emocional. Podemos usar luzes para trazer foco, aconchego ou relaxamento, dependendo da proposta do ambiente”, afirmou.
De acordo com a arquiteta, todos os espaços podem ser transformados com base na neuroarquitetura, desde residências até escolas e hospitais.
“A casa é o nosso refúgio. Ela precisa oferecer conforto e descanso, mas cada cômodo deve despertar sensações diferentes. O quarto precisa de relaxamento; o home office, de foco; e a cozinha, de energia”, destacou.
Nas escolas, Karla observa que a neuroarquitetura pode contribuir para um aprendizado mais fluido.
“Ambientes escolares com iluminação natural, cores vivas e materiais ao alcance das crianças ajudam na autonomia e diminuem o cansaço. Já os espaços escuros e rígidos tornam o ensino mais cansativo”, explicou.
Os hospitais também estão entre os ambientes que mais se beneficiam desse tipo de projeto.
“São espaços com carga emocional intensa. Estudos mostram que pacientes com contato visual com a natureza ou luz natural se recuperam melhor. Às vezes, apenas mudar a cor da parede ou permitir a entrada de luz já faz diferença enorme”, pontuou.
A arquiteta destacou ainda a importância da iluminação correta, especialmente nos ambientes residenciais, e alertou que erros comuns podem interferir no sono e na saúde mental.
“Iluminação branca nunca deveria existir em quartos. Ela interfere no ciclo do sono. A luz mais quente e indireta é ideal para relaxar. Nosso ciclo circadiano, que regula o sono e os hormônios, é controlado pela iluminação natural. Quando ele se desregula, surgem insônia, ansiedade e estresse”, alertou.
Segundo ela, o mesmo cuidado deve ser aplicado em locais de trabalho. “Ambientes sem ergonomia ou com iluminação inadequada causam dores, cansaço e tensão. Tudo isso impacta diretamente o bem-estar”, reforçou.
Para Karla, investir em projeto arquitetônico é investir em qualidade de vida.
“Arquitetura não é gasto, é investimento. O custo de um bom projeto é muito menor do que o prejuízo de corrigir erros depois da obra. Um ambiente bem planejado melhora o humor, a produtividade e até a saúde física e mental”, defendeu.
No encerramento da entrevista, ela lembrou que pequenas mudanças já fazem diferença. “A arquitetura está em tudo: na casa, no trabalho, na cidade. Se a gente pensa em conforto, ergonomia e aconchego, automaticamente melhora a qualidade de vida”, concluiu.