“Não acredite em promessas”: baianos revelam os desafios da vida em Roma
No coração da Itália, em meio às ruas históricas da capital, pulsa também o esforço e a resiliência de muitos brasileiros que deixaram o Brasil em busca de uma vida melhor. Entre eles, três baianos de Salvador têm histórias que se cruzam pelo trabalho, pelos sonhos e pelas duras lições da imigração. Ricardo Ferraz, há […]
No coração da Itália, em meio às ruas históricas da capital, pulsa também o esforço e a resiliência de muitos brasileiros que deixaram o Brasil em busca de uma vida melhor. Entre eles, três baianos de Salvador têm histórias que se cruzam pelo trabalho, pelos sonhos e pelas duras lições da imigração.
Ricardo Ferraz, há 14 anos em solo italiano, carrega uma trajetória marcada por desafios e conquistas. “Vim por um convite da minha prima, que infelizmente já faleceu. Queria uma mudança de vida. Fiz a experiência, gostei, e estou aqui até hoje”, contou.
Ele começou como ajudante de pedreiro, passou por uma empresa de publicidade e hoje é dono do próprio negócio na construção civil. “Estou bem, estou feliz. Trabalho com meu irmão, com amigos, pessoas que colaboram comigo. Graças a Deus, está andando.”
Apesar da estabilidade e da sensação de dever cumprido, Ricardo é categórico ao falar sobre a ideia de que é possível enriquecer rapidamente morando fora: “Quem disser que ficou rico em dois, três, quatro anos na Itália está mentindo ou está envolvido com drogas ou prostituição. Se você trabalha honestamente, rala, acorda cedo, vai pra obra, volta pra casa, é impossível ficar rico. Você até guarda um pouco, mas riqueza, como muitos dizem, não existe.”
Mesmo satisfeito com sua realidade atual, ele não descarta o retorno ao Brasil: “Minha casa é o Brasil. Pretendo voltar sim. Ainda não agora, porque tive um prejuízo de 120 mil reais e estou tentando recuperar, mas quero voltar. O sangue é brasileiro.”
Com ele, também está o irmão Marcos Ferraz, que reforça o sentimento de gratidão pela oportunidade, mas não esconde as dificuldades de lidar com a própria comunidade brasileira no exterior. “O mais difícil aqui às vezes é trabalhar com brasileiro. Tem muito brasileiro que quando está aqui há mais tempo quer explorar quem está chegando. Acha que o outro tem que fazer o serviço que ele pensa, e não é assim. Eu ralei muito para chegar onde estou.”
Marcos é direto ao comparar a vida na Itália com a que teria no Brasil: “Com certeza aqui é melhor. Consigo manter algumas coisas no Brasil e viver bem aqui. Sinto falta do meu país, da praia, do acarajé… mas financeiramente, é outro patamar.”
Outro parceiro da jornada é Rodrigo Ferraz, também de Salvador, que deixa um alerta especialmente para quem pensa em imigrar na promessa de ajuda de conhecidos. “Digo de coração: ninguém quer te ajudar. Esqueça isso de ‘vem que eu te ajudo’. Na maioria das vezes, é exploração. Principalmente para mulheres. Já vi muitos casos de exploração sexual. É triste, mas é real.”
Rodrigo lamenta a falta de união entre os próprios brasileiros no exterior: “Filipinos, romenos, se ajudam. Nós, brasileiros, infelizmente, não. E digo isso com dor no coração. Hoje mesmo vi uma brasileira abandonada no meio da estrada. Isso não é aceitável. Não gosto, não aceito.”
Mesmo diante de tantas adversidades, os três baianos não perderam o orgulho de suas raízes. Ricardo aproveitou para mandar um abraço especial: “Quero deixar um abraço pra minha tia Norma, pra minha prima Alcione, que estão em Feira de Santana. Sempre que posso, passo por lá. Tenho um carinho enorme por essa cidade.”
As histórias de Ricardo, Marcos e Rodrigo refletem um sentimento comum entre muitos brasileiros no exterior: o desejo de vencer, a gratidão pelas oportunidades conquistadas e a saudade profunda do Brasil. Mas também revelam as armadilhas do sonho de “ficar rico na Europa”, a falta de apoio entre conterrâneos e a necessidade de enfrentar a realidade com os pés no chão.
“Trabalhar duro no exterior pode melhorar sua vida, mas não é mágica. É suor, é renúncia, é luta diária”, resume Ricardo, com a serenidade de quem fala com propriedade.
*Com informações de Jorge Biancchi, direto de Roma