Lipedema: Nutróloga explica sobre doença que afeta milhões de mulheres e ainda é pouco conhecida
Doença que atinge muitas mulheres finalmente ganha reconhecimento e tratamento eficaz em Feira de Santana
A nutróloga Dra. Aline Jardim esclareceu pontos essenciais sobre o lipedema — uma doença ainda pouco conhecida, mas que tem afetado a vida de muitas mulheres e ganhado cada vez mais visibilidade nas redes sociais.
“A informação é tudo. Informação é prevenção”, destacou a doutora logo no início da entrevista, ao falar sobre a importância de se reconhecer os sinais do lipedema, uma condição que, segundo ela, muitas vezes é confundida com obesidade ou celulite.
O lipedema é uma doença crônica caracterizada por uma desproporção na distribuição de gordura no corpo, afetando principalmente quadris, coxas e pernas, com frequência até o tornozelo — o que confere um aspecto de “torniquete”, com o pé magro e o tornozelo inchado.
“É uma gordura localizada que incomoda e causa dor. Muitas mulheres se sentem envergonhadas, se escondem, e o que é pior: durante muito tempo não sabiam que tinham uma doença. Elas apenas se achavam diferentes”, explica a médica. Segundo ela, foi apenas há dois anos que o lipedema passou a ser oficialmente classificado como doença.
O diagnóstico correto, reforça Dra. Aline, é fundamental. “É diferente da obesidade comum. Tem mulher magra com lipedema. E o mais importante: é simétrico. Acomete as duas pernas ou os dois braços, ao contrário do linfedema, por exemplo, que atinge apenas um membro.”
Entre os sinais mais frequentes estão: dor constante nas pernas, sensação de peso, inchaço, hematomas espontâneos e desconforto estético.
“Elas relatam manchas roxas sem nem ter batido em nada. Isso tudo impacta diretamente na vida social e emocional dessas mulheres”, afirma a médica.
Além disso, o lipedema é uma condição que interfere na qualidade de vida. “É uma doença que limita. Limita para trabalhar, para se movimentar, para viver. Muitas mulheres deixam de ir à praia, de usar vestidos, de mostrar as pernas.”
O tratamento do lipedema é complexo e envolve mudanças de estilo de vida, alimentação adequada, suplementação específica, tecnologias estéticas e, em casos mais graves, a lipoaspiração.
“Não adianta só fazer dieta e exercício. O tecido gorduroso do lipedema é diferente, muito mais resistente, infiltrado no tecido conjuntivo. Por isso, muitas vezes é preciso associar suplementação, terapias anti-inflamatórias, e até outras tecnologias que usamos na clínica”, explicou.
A alimentação também precisa ser adaptada. “O lipedema não aceita açúcar, álcool, alimentos ultraprocessados nem cigarro. A dieta cetogênica e a mediterrânea são as mais recomendadas, sempre com acompanhamento profissional.”
Dra. Aline também explicou como a soroterapia — aplicação intravenosa de vitaminas, minerais e aminoácidos — entra no tratamento.
“Popularmente chamada de ‘soroterapia’, essa é uma maneira eficiente de fazer reposições que o corpo precisa. Por exemplo, muitas mulheres com lipedema têm deficiência de ferro. Em vez de levar meses para corrigir isso com comprimidos, fazemos a reposição endovenosa e o resultado vem rápido.”
Outro ponto abordado foi o uso de implantes hormonais, como a gestrinona, em casos selecionados.
“Para quem pode usar, os implantes ajudam a diminuir o estradiol, que é o hormônio que favorece o acúmulo de gordura em bumbum e coxas, exatamente as áreas mais afetadas pelo lipedema. Com acompanhamento médico, é um recurso fantástico.”
A médica também falou sobre o Instituto da Plástica, centro de referência em Feira de Santana onde atua com uma equipe multidisciplinar.
“É um espaço pensado para oferecer saúde interior e exterior. Temos estrutura e tecnologia de ponta, como em Salvador ou nos grandes centros do Brasil. As mulheres da região não precisam mais sair de sua cidade para ter um atendimento de excelência.”
Encerrando a entrevista, Dra. Aline Jardim deixou uma mensagem de esperança: “Existe tratamento, sim. A mulher com lipedema pode recuperar sua autoestima, sua mobilidade, sua alegria de viver. O primeiro passo é o diagnóstico. A partir daí, tudo pode mudar.”