Junho Violeta: Especialista alerta para os perigos do ceratocone e a importância do diagnóstico precoce
O ceratocone costuma aparecer mais cedo porque a córnea das crianças é naturalmente mais maleável.
Durante o mês de junho, a campanha Junho Violeta ganha destaque ao alertar sobre uma doença ocular ainda pouco conhecida, mas que tem se tornado cada vez mais comum: o ceratocone. Para esclarecer o tema e alertar a população sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, a médica oftalmologista Dra. Marcella Boaventura, da Clinos Hospital de Olhos de Feira de Santana, destacou os principais aspectos da enfermidade.
“O Junho Violeta é uma campanha de conscientização sobre o ceratocone, uma doença que geralmente acomete crianças e adolescentes, podendo atingir adultos também, mas de forma mais grave quando aparece mais cedo. Se controlada, o paciente pode conviver bem e manter uma boa qualidade de visão. Mas, se não for diagnosticada e tratada precocemente, pode levar até à necessidade de um transplante de córnea”, explicou a especialista.
Segundo Dra. Marcella, os primeiros sinais da doença incluem sensibilidade à luz e uma visão embaçada, além de um tipo específico de astigmatismo irregular causado pelas deformações na córnea. A doença é comumente associada a quadros alérgicos, como rinite e asma, o que contribui para o agravamento.
“O fato de coçar os olhos está diretamente relacionado à progressão do ceratocone. É cientificamente comprovado que esse hábito pode interferir na evolução da doença. Crianças com alergia ocular não tratada, por exemplo, têm um risco muito maior de desenvolver formas graves”, ressaltou.
A oftalmologista explica que o ceratocone costuma aparecer mais cedo porque a córnea das crianças é naturalmente mais maleável. Isso facilita a deformação causada, entre outros fatores, pelo ato repetitivo de coçar os olhos.
“A partir dos 30 ou 35 anos, a córnea tende a se tornar naturalmente mais rígida. Por isso, um dos tratamentos mais indicados para crianças com ceratocone em progressão é o crosslinking, que fortalece a córnea e reduz o risco de agravamento.”
O tratamento do ceratocone depende do estágio em que a doença é identificada. Nos casos mais leves, o uso de óculos ou lentes especiais pode ser suficiente. Para casos mais avançados, há opções como lentes rígidas, lentes esclerais, anel intraestromal (colocado dentro da córnea) e, como último recurso, o transplante de córnea.
“Recebi recentemente uma paciente de apenas 20 anos, já com a córnea bastante comprometida, cicatriz e opacidade. Infelizmente, para ela, só restava a opção do transplante. Por isso, o acompanhamento precoce e o controle da alergia são fundamentais”, relatou a médica.
Embora a literatura médica ainda classifique o ceratocone como uma doença rara, a realidade nos consultórios tem sido outra.
“Hoje, atendo de dois a três casos por dia. Crianças com 8 ou 9 anos já têm apresentado quadros graves. Algo que era impensável no passado”, comentou Dra. Marcella.
Ela aponta ainda que fatores como poluição, exposição excessiva a telas e inflamações oculares frequentes podem contribuir indiretamente para o aumento de casos.
“As telas não têm uma ligação direta com o ceratocone, mas aumentam a miopia e reduzem a frequência do piscar, deixando os olhos mais secos e suscetíveis a inflamações.”
Nos casos mais graves, quando todas as outras opções de tratamento falham, o transplante de córnea é o único caminho. Porém, a fila de espera pode ser longa.
“A fila de transplantes aqui na Bahia gira em torno de um ano e meio atualmente. Antes da pandemia, era de cerca de oito meses. O Banco de Olhos da Bahia tem feito um trabalho importante para tentar reduzir esse tempo, mas é fundamental incentivar a doação de córneas”, reforçou.
Dra. Marcella reforçou a importância de campanhas como o Junho Violeta e o papel da informação na prevenção da doença.
“É uma doença pouco discutida na mídia, mas que tem afetado cada vez mais pessoas e de forma mais precoce. Conscientizar a população é essencial para que possamos identificar precocemente e tratar antes que a visão seja seriamente comprometida.”