Historiador detalha como Feira de Santana se tornou o maior entroncamento rodoviário do Norte e Nordeste
A conversa com o professor Carlos Lima evidenciou que a evolução de Feira de Santana, desde um ponto de passagem colonial até o maior entroncamento rodoviário do Norte e Nordeste, é resultado de fatores geográficos, históricos e políticos
Feira de Santana, conhecida atualmente como o maior entroncamento rodoviário do Norte e Nordeste, possui uma história marcada por rotas de passagem desde os tempos coloniais. Para entender essa evolução, o programa De Olho na Cidade recebeu o professor Carlos Lima, mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), que trouxe detalhes sobre como a cidade se desenvolveu em torno desses antigos caminhos até se tornar uma referência no transporte rodoviário.
“Quando falamos de Feira de Santana, no século XX e XXI, é comum associá-la ao grande entroncamento rodoviário, o segundo maior do Brasil e o primeiro do Norte e Nordeste, onde BRs como a 101, 116 e 324 cortam a cidade”, explicou o professor Carlos Lima. Ele destaca, porém, que essa tradição de ser um ponto de passagem não é recente. “O povoamento da cidade está intrinsecamente ligado às estradas coloniais, que já faziam de Feira um ponto de conexão importante no Brasil Colônia.”
Segundo o historiador, dois grandes caminhos foram cruciais para a formação de Feira de Santana: a Estrada Real e a Estrada das Boiadas.
“A Estrada Real ligava o sertão à região de Cachoeira, um dos principais portos do interior baiano, e seu traçado passava pelo que hoje conhecemos como Feira. Já a Estrada das Boiadas, por onde circulavam principalmente gado e outras mercadorias, também contribuiu para o desenvolvimento da região”, esclareceu.
Foi a partir do século XX, com o advento das rodovias, que Feira de Santana começou a ganhar destaque como entroncamento. De acordo com Carlos Lima, a construção de rodovias importantes, como a BR-116, conhecida como Rio-Bahia, e o Anel de Contorno, transformou a cidade em um polo de transportes.
“Esse processo começou na década de 1920, mas foi consolidado nos anos 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, com a intenção de articular o Nordeste ao Sudeste. A inauguração do trecho Feira de Santana da BR-116, na década de 1940, foi um marco”, relembra o professor.
Ele destaca, ainda, o impacto da construção dessas estradas na paisagem e no crescimento populacional.
“O romance Setembro na Feira, de Juarez Bahia, é uma obra importante para entender como a construção da Rio-Bahia modificou a cidade em vários aspectos, desde sua estética urbanística até seu papel como vetor de crescimento populacional”, comenta.
Para o professor, o traçado das rodovias modernas é, de certa forma, uma continuidade dos antigos caminhos coloniais.
“Se olharmos a topografia, as rodovias seguem, em muitos trechos, o trajeto da antiga Estrada Real. Assim, a localização geográfica de Feira de Santana sempre foi um fator que impulsionou seu desenvolvimento, desde os tempos coloniais até os dias atuais”, pontuou.
Ele também destaca a importância política na consolidação de Feira como entroncamento. “Houve articulações políticas locais para garantir que as rodovias passassem pela cidade, tornando-a um ponto estratégico”, afirma.
Além das BRs, estradas estaduais, como a Estrada do Feijão, construída na década de 1960, também desempenharam papel crucial no desenvolvimento regional.
“A Estrada do Feijão foi construída para ligar Feira de Santana a outros municípios do interior, e sua construção, inclusive, trouxe mudanças políticas, como a emancipação do distrito de Almas, que hoje é conhecido como Anguera”, explica.