Educação

Ginecologista defende educação sexual nas escolas como ferramenta urgente para prevenção e respeito

Segundo a ginecologista, a ausência desse tipo de orientação nas escolas tem impactos profundos e duradouros na vida de muitas mulheres

20/07/2025 08h28
Ginecologista defende educação sexual nas escolas como ferramenta urgente para prevenção e respeito
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Durante participação no programa Cidade em Pauta, da Nordeste FM, a ginecologista Dra. Márcia Suely fez um apelo pela implementação urgente da educação sexual nas escolas brasileiras. Com o tema “Educação sexual nas escolas: uma necessidade urgente”, a médica argumentou que o assunto vai além da saúde, é também uma questão de política pública e responsabilidade social.

“Educação sexual é sobre dar ferramentas. É ensinar respeito, ensinar o que é abuso, ensinar a conhecer o próprio corpo. Não é sobre ensinar a fazer sexo”, destacou.

Segundo a ginecologista, a ausência desse tipo de orientação nas escolas tem impactos profundos e duradouros na vida de muitas mulheres, algo que ela vê cotidianamente em seu consultório.

“Tenho atendido pacientes com 30, 40, 50 anos com disfunções sexuais, como vaginismo e dores, que poderiam ter sido evitadas com educação sexual na infância e adolescência. Muitas dessas mulheres carregam traumas de abusos, da falta de orientação e da repressão vivida em casa.”

Dra. Márcia trouxe dados que ilustram a urgência do tema. No Brasil, a cada mil meninas entre 15 e 19 anos, 70 engravidam, número dez vezes maior que na Holanda, onde esse índice é de apenas 7 em cada mil, justamente por haver uma política sólida de educação sexual desde os primeiros anos escolares.

“Esses números mostram que educação sexual desde a infância não estimula o sexo precoce. Ao contrário, ela protege, educa e empodera. A criança aprende que seu corpo tem limites, aprende a se defender e a identificar abusos”, afirmou.

Outro dado citado pela médica revela que mais de 2 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes foram registrados nos últimos anos no Brasil, e a maioria ocorre dentro do próprio lar.

“A escola precisa ser um espaço de acolhimento. Muitas dessas crianças são abusadas dentro de casa e não sabem que estão sendo vítimas porque nunca aprenderam o que é abuso. Se elas não sabem onde começa, não sabem como se defender.”

A ginecologista criticou os mitos e tabus que ainda cercam o tema no Brasil. Um dos mais comuns é o de que falar sobre sexualidade nas escolas incentiva o sexo precoce.

“Muitos pais acreditam que isso é ensinar a fazer sexo. Não é. É ensinar o respeito ao próprio corpo e ao do outro. É falar de menstruação, de consentimento, de limites, de diversidade de gênero e, infelizmente, muitos pais também não foram preparados para isso. Não receberam educação sexual e, por isso, não sabem transmitir.”

Dra. Márcia ressaltou ainda que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em vigor desde 2017, não inclui a educação sexual como obrigatória, o que abre espaço para que escolas sejam impedidas de abordar o tema, mesmo que tenham interesse.

“Educação sexual deveria ser lei. Não pode ser uma escolha da escola ou do projeto que ela quer implantar. Tem que estar na grade curricular, como já acontece em alguns países e, aqui no Brasil, em apenas três estados.”

A especialista defende que o ensino de educação sexual comece na infância, de forma lúdica e respeitosa, adaptada às faixas etárias.

“Na Holanda, a educação sexual começa no primeiro ano. Aqui, começa no oitavo, quando muitos já sofreram algum tipo de violência. Existe metodologia para ensinar de forma adequada. Não é o professor sozinho. É uma equipe multidisciplinar: psicólogos, pedagogos, ginecologistas.”

A médica também destacou que a escola não deve ser a única responsável. Para que a educação sexual seja eficaz, é necessário que os pais estejam envolvidos no processo.

“O ideal seria escola e família caminhando juntas. Mas como muitos pais também não sabem lidar com o tema, é preciso incluí-los nessa formação. Muitos querem proteger os filhos, mas não sabem como. Dizer apenas ‘cuidado’ ou ‘isso é errado’ não é suficiente.”

Dra. Márcia concluiu que o avanço só será possível com mobilização da sociedade civil e com mudanças nas políticas públicas.

“A BNCC precisa ser revista. Precisamos pressionar para que a educação sexual seja obrigatória e bem orientada. Cada um tem um papel nisso. Nós, ginecologistas, professores, psicólogos e pais.”

Ela também se colocou à disposição para dialogar com escolas, famílias e profissionais interessados no tema.

“Estou disponível para conversar com pais, com professores, com os alunos. A educação sexual precisa deixar de ser tabu. Ela é a chave para uma geração mais respeitosa, mais segura, mais saudável.”

Interessados podem acompanhar a médica também pelo Instagram @dra.marciadamaral ou presencialmente na Clínica Vitalis, no Edifício Premier, 7º andar, em Feira de Santana.

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