Saúde

Fim do preventivo? Ginecologista explica como teste de DNA vai substituir papanicolau no SUS

A expectativa do Ministério da Saúde é que a cobertura seja nacional até dezembro de 2026.

26/08/2025 06h27
Fim do preventivo? Ginecologista explica como teste de DNA vai substituir papanicolau no SUS
Foto: Gatot/Adobe Stock

A ginecologista Dra. Márcia Suely explicou as mudanças anunciadas pelo Ministério da Saúde, que iniciou a implementação gradual do teste molecular de DNA para HPV, exame que deve substituir o tradicional papanicolau na prevenção do câncer do colo do útero.

A médica destacou que o novo teste é muito mais sensível e permite detectar a presença do HPV antes do surgimento de lesões ou do câncer em estágio inicial.

“Esse teste antecipa o diagnóstico em até dez anos. Ou seja, permite identificar o vírus antes mesmo de a mulher apresentar sintomas ou lesões. É uma tecnologia moderna e inovadora”, afirmou a especialista.

Segundo Dra. Márcia, o exame tradicional detecta alterações já existentes no colo do útero, enquanto o teste de DNA rastreia diretamente o vírus que causa o câncer.

“O preventivo detecta lesões no colo do útero. Já o teste de DNA identifica o HPV e seus subtipos, inclusive os mais associados ao câncer, como o 16 e o 18. Isso amplia a prevenção, já que o HPV também pode causar câncer de vagina, vulva, ânus e até garganta”, explicou.

“O papanicolau precisa ser feito todos os anos. Já o teste de DNA pode ser repetido a cada cinco anos, se o resultado for negativo. Para muitas mulheres, isso representa mais conforto e menos procedimentos desnecessários”, disse.

A ginecologista também lembrou que o exame pode evitar cirurgias desnecessárias.

“Muitas vezes uma manchinha no colo do útero gera biópsias e até retirada do útero, quando não havia necessidade. O teste de DNA ajuda a evitar essas intervenções, porque mostra se a lesão realmente tem relação com o HPV.”

A substituição do papanicolau pelo teste molecular será feita de forma progressiva. Inicialmente, o exame começou a ser aplicado em Recife e será ampliado gradualmente para outros estados, incluindo a Bahia, até alcançar todo o país. A expectativa do Ministério da Saúde é que a cobertura seja nacional até dezembro de 2026.

Dra. Márcia lembrou que, até lá, o papanicolau continua sendo fundamental:

“É importante que as mulheres não deixem de fazer o exame preventivo. O teste de DNA será incorporado aos poucos e o rastreamento continua essencial para salvar vidas.”

O exame será indicado para mulheres entre 25 e 65 anos. Segundo a médica, antes dessa faixa etária não há necessidade, pois mesmo que a jovem adquira o HPV, dificilmente a infecção evolui para lesão antes dos 25 anos.

Além disso, a vacinação contra o HPV continua sendo fundamental.

“A Austrália praticamente eliminou o câncer de colo de útero porque adotou duas medidas: a vacinação de meninos e meninas entre 9 e 14 anos e o teste de DNA para rastreamento. Infelizmente, no Brasil, a cobertura vacinal ainda é baixa, e precisamos conscientizar as famílias da importância da imunização.”

Dra. Márcia relatou o caso de uma paciente que fazia preventivo todos os anos, mas só teve o câncer inicial detectado após realizar o teste de DNA.

“Era uma jovem que tinha cinco tipos de HPV. O papanicolau não havia detectado, mas o exame de DNA mostrou. Graças a isso, descobrimos um adenocarcinoma inicial e ela pôde ser tratada a tempo. Hoje está curada. Esse é o poder do exame.”

A especialista acredita que a mudança representa um avanço na saúde pública.

“Fico muito feliz porque não são apenas minhas pacientes, mas toda a população brasileira que será beneficiada com essa tecnologia. Informação e prevenção salvam vidas.”

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