Fim do preventivo? Ginecologista explica como teste de DNA vai substituir papanicolau no SUS
A expectativa do Ministério da Saúde é que a cobertura seja nacional até dezembro de 2026.
A ginecologista Dra. Márcia Suely explicou as mudanças anunciadas pelo Ministério da Saúde, que iniciou a implementação gradual do teste molecular de DNA para HPV, exame que deve substituir o tradicional papanicolau na prevenção do câncer do colo do útero.
A médica destacou que o novo teste é muito mais sensível e permite detectar a presença do HPV antes do surgimento de lesões ou do câncer em estágio inicial.
“Esse teste antecipa o diagnóstico em até dez anos. Ou seja, permite identificar o vírus antes mesmo de a mulher apresentar sintomas ou lesões. É uma tecnologia moderna e inovadora”, afirmou a especialista.
Segundo Dra. Márcia, o exame tradicional detecta alterações já existentes no colo do útero, enquanto o teste de DNA rastreia diretamente o vírus que causa o câncer.
“O preventivo detecta lesões no colo do útero. Já o teste de DNA identifica o HPV e seus subtipos, inclusive os mais associados ao câncer, como o 16 e o 18. Isso amplia a prevenção, já que o HPV também pode causar câncer de vagina, vulva, ânus e até garganta”, explicou.
“O papanicolau precisa ser feito todos os anos. Já o teste de DNA pode ser repetido a cada cinco anos, se o resultado for negativo. Para muitas mulheres, isso representa mais conforto e menos procedimentos desnecessários”, disse.
A ginecologista também lembrou que o exame pode evitar cirurgias desnecessárias.
“Muitas vezes uma manchinha no colo do útero gera biópsias e até retirada do útero, quando não havia necessidade. O teste de DNA ajuda a evitar essas intervenções, porque mostra se a lesão realmente tem relação com o HPV.”
A substituição do papanicolau pelo teste molecular será feita de forma progressiva. Inicialmente, o exame começou a ser aplicado em Recife e será ampliado gradualmente para outros estados, incluindo a Bahia, até alcançar todo o país. A expectativa do Ministério da Saúde é que a cobertura seja nacional até dezembro de 2026.
Dra. Márcia lembrou que, até lá, o papanicolau continua sendo fundamental:
“É importante que as mulheres não deixem de fazer o exame preventivo. O teste de DNA será incorporado aos poucos e o rastreamento continua essencial para salvar vidas.”
O exame será indicado para mulheres entre 25 e 65 anos. Segundo a médica, antes dessa faixa etária não há necessidade, pois mesmo que a jovem adquira o HPV, dificilmente a infecção evolui para lesão antes dos 25 anos.
Além disso, a vacinação contra o HPV continua sendo fundamental.
“A Austrália praticamente eliminou o câncer de colo de útero porque adotou duas medidas: a vacinação de meninos e meninas entre 9 e 14 anos e o teste de DNA para rastreamento. Infelizmente, no Brasil, a cobertura vacinal ainda é baixa, e precisamos conscientizar as famílias da importância da imunização.”
Dra. Márcia relatou o caso de uma paciente que fazia preventivo todos os anos, mas só teve o câncer inicial detectado após realizar o teste de DNA.
“Era uma jovem que tinha cinco tipos de HPV. O papanicolau não havia detectado, mas o exame de DNA mostrou. Graças a isso, descobrimos um adenocarcinoma inicial e ela pôde ser tratada a tempo. Hoje está curada. Esse é o poder do exame.”
A especialista acredita que a mudança representa um avanço na saúde pública.
“Fico muito feliz porque não são apenas minhas pacientes, mas toda a população brasileira que será beneficiada com essa tecnologia. Informação e prevenção salvam vidas.”