Falta de planejamento faz orçamento de construções extrapolar expectativas, alerta arquiteto
Segundo Ed Vasco, é comum que as pessoas iniciem obras sem uma reserva financeira adequada, o que resulta em paralisação do projeto.
A falta de planejamento e organização financeira é um dos principais fatores que fazem com que o orçamento de uma construção acabe ultrapassando as expectativas iniciais. O alerta é do arquiteto Ed Vasco, que participou do programa Cidade em Pauta, na Nordeste FM, para falar sobre os desafios enfrentados na execução de projetos residenciais e comerciais.
“Nós brasileiros, de forma geral, não somos organizados em planejamento e isso acontece muito na construção. O cliente, muitas vezes, quer mais do que pode pagar, e sem planejamento financeiro e organização orçamentária, os gastos saem do controle”, destacou o arquiteto.
Segundo Ed Vasco, é comum que as pessoas iniciem obras sem uma reserva financeira adequada, o que resulta em paralisação do projeto.
“Quem não tem um parente ou amigo que começou uma obra e parou? Isso acontece porque não houve planejamento financeiro”, pontuou.
Outro fator que contribui para o estouro de orçamento é a falta de uma estimativa realista de custos.
“Quando um cliente entra no nosso escritório, seja em Feira de Santana ou Salvador, eu sempre pergunto: ‘Você já tem uma poupança? Qual sua estimativa de orçamento?’. O ideal é que o projeto seja desenvolvido de acordo com a capacidade financeira do cliente, e não apenas baseado no desejo de construção”, explicou Ed Vasco.
O arquiteto também chamou atenção para um problema cultural na concepção dos projetos, que leva a gastos desnecessários.
“Muitas pessoas constroem casas enormes, com cinco ou seis quartos, quando a necessidade é de três. O brasileiro tem um fetiche com banheiros. Já vi casa com três moradores e oito banheiros e depois se assustam com os custos de manutenção”, brincou.
Sobre os erros de planejamento, Ed Vasco ressaltou que um projeto não começa com a contratação de um arquiteto ou engenheiro, mas sim com um planejamento de vida.
“Se eu tenho um filho de 14 ou 16 anos, que em poucos anos sairá de casa, preciso mesmo fazer uma suíte para ele? Esses são questionamentos que devem ser feitos antes de começar um projeto. Depois disso, vem o planejamento financeiro, a poupança para construção e a definição do metro quadrado que cabe no bolso do cliente”, explicou.
No que diz respeito às diferenças de custo por localização, ele afirmou que Salvador possui um custo mais alto de construção em comparação com Feira de Santana, mas que dentro das próprias cidades existem diferenças.
“Projetar no Cabula é diferente de projetar no Corredor da Vitória. Em Feira de Santana, o metro quadrado mais alto está na Artêmia Pires, seguido pelo Papagaio, que tem uma variação entre os públicos A, B e C. Já a Santa Mônica é uma área tradicional, uma espécie de ‘Corredor da Vitória’ de Feira”, comparou.
A falta de planejamento urbano também foi um ponto abordado pelo arquiteto, especialmente em relação à Artêmia Pires, uma das regiões mais valorizadas da cidade.
“Há um privilégio excessivo para os veículos, e o pedestre fica sem espaço. A Artêmia Pires é um reflexo disso. Falta uma demanda urbanística por parte da sociedade, e não se fala sobre urbanismo e arquitetura nas escolas. As crianças que crescem ali acham normal não andar em calçadas, e no futuro, isso se perpetua”, criticou.
Ed Vasco reforçou que o poder público tem sua responsabilidade, mas que a sociedade também precisa se engajar na discussão sobre o futuro das cidades.
“A cidade que estamos construindo hoje é a cidade que nossos netos e bisnetos vão herdar. Feira de Santana está ficando abandonada, com ruas inteiras do centro esvaziadas. Precisamos refletir sobre como estamos planejando o crescimento da cidade e das nossas próprias casas”, concluiu.