Evento do Sindipetro Bahia relembra 40 anos da greve que parou produção da Refinaria Landulpho Alves
Movimento foi um marco na história da categoria petroleira
Em plena ditadura militar, os petroleiros paralisaram a produção da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) em Mataripe (Bahia) e da Refinaria Planalto (Replan), em Paulínia (São Paulo), desafiando a Lei da Segurança Nacional. A greve foi marcada por uma grande repressão por parte dos militares, o que não intimidou a categoria petroleira que seguiu adiante com o movimento.
O estopim da greve foi o Decreto-Lei 2.025, sancionado pelo então presidente e general João Batista Figueiredo, que cortava direitos dos trabalhadores de estatais e reduzia efetivos. Mas os petroleiros também protestavam contra o arrocho salarial, a manipulação do INPC e o acordo com o FMI.
Na Bahia, a greve aconteceu de 07 a 11 de julho. Período, segundo os grevistas, que ficou gravado e ainda permanece vivo na memória de cada um deles, principalmente dos petroleiros e petroleiras que foram demitidos, tiveram seus nomes incluídos pela Petrobrás em uma lista, que foi distribuída para as empresas dos ramos de petróleo, químico e petroquímico. Nenhuma empresa contratava os grevistas de 1983.
Demissões e intervenção no Sindipetro
Apesar da luta e coragem da categoria petroleria, as reivindicações não foram atendidas e houve intervenção imediata do governo nos sindicatos dos petroleiros, além de demissões – 198 em Mataripe (Bahia) e 152 em Paulínia, (São Paulo). Porém, a greve foi importante pela semente plantada, que germinou mais tarde em forma de conquistas de vários direitos para a categoria.
Antes, durante e depois da greve há muita história para contar. Uma parte dela vai ser rememorada no evento, que é também um ato político, organizado pelo Sindipetro Bahia, tendo como parceiros a Abraspet, Astape, Aepet, e os Cepes, que acontece nesta terça-feira, 11 de julho, às 18h30, na Subsede da Cultura e Cidadania do Sindipetro Bahia (Ladeira da Independência, nº 16, Nazaré), em Salvador.
No ato, será exibido um documentário narrado pelos próprios demitidos da greve, onde eles contam as suas histórias de luta, de sofrimento e de superação. Além de uma palestra sobre a responsabilidade da Petrobrás por violações de direitos durante a Ditadura”, ministrada pelos professores e pesquisadores Carlos Eduardo Freitas (UFBA/UNEB) e Alex de Souza Ivo (IFBA)
Para o Sindipetro Bahia, a greve de 1983 foi importante não só para a categoria petroleira, mas também para a sociedade brasileira, pois contribuiu para o início do processo de redemocratização do Brasil
Desafio à ditadura e legado de luta
O movimento paredista de 1983 dos petroleiros impulsionou também a primeira greve geral da ditadura militar, no dia 21 de julho e no dia 28 de agosto deste mesmo ano, os trabalhadores criavam a Central Única dos Trabalhadores, dando início a um novo sindicalismo, mais combativo e focado na organização das bases e na construção da intervenção operária nos locais de trabalho, tendo como um dos seus grandes expoentes, Luiz Inácio Lula da Silva, que veio a ser presidente do Brasil e hoje está no seu terceiro mandato.
Nos anos seguintes à 1983, a categoria petroleira também travou muitas lutas, principalmente em defesa do Sistema Petrobrás, da democracia, da soberania brasileira, pelos direitos dos petroleiros e petroleiras e contra a privatização da estatal, principalmente na Bahia, onde a Petrobrás nasceu e também sofreu o seu maior desmonte no governo Bolsonaro, com a venda de muitas das suas unidades, entre elas a RLAM.