Especialistas destacam importância da educação sexual nas escolas
O diálogo precoce é fundamental e que o tema deve estar presente desde os primeiros anos da escola.

O quadro Mulheres em Pauta, apresentado pela ginecologista Dra. Márcia Suely dentro do programa Cidade em Pauta da Rádio Nordeste FM, trouxe um tema de grande relevância social: “O papel da escola na educação sexual — cuidar, orientar e proteger nossos adolescentes.”
A convidada especial foi a psicopedagoga Fernanda Leal, que participou de um bate-papo esclarecedor sobre a importância de tratar o tema com naturalidade e responsabilidade dentro das instituições de ensino.
Dra. Márcia ressaltou o objetivo do encontro: “Já falamos sobre educação sexual sob o ponto de vista médico e ginecológico, mas eu queria trazer hoje a visão da escola. A Fernanda, como psicopedagoga, tem muito a contribuir sobre esse papel da educação sexual no ambiente escolar.”
Fernanda iniciou sua participação destacando a necessidade de formação e informação, não apenas para alunos, mas também para famílias e educadores.
“Falar de educação sexual ainda é um desafio. Vivemos em um país marcado por tabus e crenças religiosas. Muitas famílias confundem educação sexual com incentivo à iniciação sexual, quando na verdade é o oposto: é sobre conhecer o corpo, entender limites e evitar consequências sérias.”
Ela reforçou que o diálogo precoce é fundamental e que o tema deve estar presente desde os primeiros anos da escola.
“A criança, ao entrar na escola, já precisa conhecer seu corpo. A BNCC, que orienta o currículo nacional, prevê esse autoconhecimento. Mas ainda temos lacunas, pois muitos alunos estudam apenas a anatomia sem compreender o significado e as consequências de suas ações.”
Durante a conversa, a ginecologista lembrou que Feira de Santana é uma das cidades com altos índices de gravidez na adolescência, o que reforça a importância de tratar o tema de forma preventiva.
“São mais de 73 mil casos de estupro por ano no Brasil, e cerca de 60% envolvem adolescentes. Isso mostra o quanto precisamos fortalecer a educação sexual, que é uma ferramenta de proteção e não de incentivo”, destacou Dra. Márcia.
Fernanda complementou dizendo que a escola e a família devem atuar juntas.
“A escola não tem mais muros. O conhecimento ultrapassa os limites da sala de aula. Mas infelizmente, muitas vezes, a escola não consegue ser mais forte que a família. Precisamos quebrar esse ciclo que perpetua a falta de diálogo. Educação sexual é também educação para a vida.”
A psicopedagoga relatou experiências vividas em sala de aula e exemplos de adolescentes que enfrentaram a maternidade precoce sem orientação adequada.
“Tive alunas que engravidaram aos 13 anos e só depois compreenderam as consequências. Não é apenas uma gravidez, é um projeto de vida interrompido. O impacto é social, não individual.”
O debate também abordou o papel das escolas na desconstrução da sexualização precoce, influenciada pela mídia e pela pornografia.
“As músicas e os conteúdos que circulam hoje deformam a percepção dos jovens sobre o que é o sexo. Precisamos trazer isso para dentro da escola e discutir com responsabilidade. Se deixarmos o assunto de fora, alguém vai ensinar de forma errada”, alertou Fernanda.
Dra. Márcia relatou casos atendidos em consultório que mostram como a falta de educação sexual na infância reverbera na vida adulta.
“Atendi mulheres com mais de 50 anos que nunca tiveram uma vida sexual saudável por traumas e ausência de diálogo sobre o tema. A falta de educação sexual na infância gera sofrimento emocional por toda a vida.”
Fernanda reforçou a necessidade de incluir as famílias no processo formativo.
“As reuniões escolares precisam ir além das notas. Devem ser espaços para falar sobre desenvolvimento, prevenção e respeito ao corpo. Não é sobre incentivar, é sobre proteger.”
Dra. Márcia agradeceu a presença da convidada e reforçou o compromisso do quadro Mulheres em Pauta em promover discussões educativas e transformadoras.
“O que queremos é que mães, pais e adolescentes tenham acesso à melhor formação possível, de corpo, mente e espírito. Educação sexual é um tema que salva vidas.”







