Especialista explica como o transplante de córnea pode recuperar a visão
A oftalmologista Dra. Nayra Mascarenhas, do Clinos Hospital de Olhos, explica indicações, técnicas e desafios do transplante de córnea, ressaltando a importância da doação para mudar realidades de quem vive na escuridão.
O transplante de córnea é um procedimento que pode transformar completamente a vida de uma pessoa com problemas severos na visão. Mas, para que isso aconteça, é fundamental que haja doação. A afirmação é da médica oftalmologista Dra. Nayra Mascarenhas, que falou sobre os avanços, os critérios para indicação e os desafios ainda enfrentados na realização desse tipo de cirurgia.
“Essa é a minha rotina e uma área que me dá muito prazer, porque conseguimos melhorar a qualidade de vida de muitos pacientes”, iniciou a médica.
A córnea é uma estrutura transparente localizada na parte anterior do olho e funciona como uma lente natural, essencial para uma boa visão.
“Para que a gente enxergue bem, essa estrutura precisa estar livre, transparente, sem cicatrizes ou lesões”, explicou Dra. Nayra.
Segundo a especialista, qualquer condição que comprometa essa transparência pode levar à necessidade do transplante.
“Infecções, traumas, doenças hereditárias ou alterações na curvatura da córnea, como o ceratocone, são causas comuns que podem indicar a cirurgia”, detalhou.
Uma boa notícia é que não há restrição de idade para realizar o procedimento. “O critério é clínico, não etário. A indicação depende da necessidade real de substituir a córnea para melhorar a visão”, pontuou.
A avaliação do paciente é feita por meio de exames oftalmológicos completos.
“Nem toda perda de visão é causada pela córnea. Pode ser catarata, problemas na retina ou no nervo óptico. Precisamos confirmar que a causa está realmente na córnea para indicar o transplante”, acrescentou.
Atualmente, existem diferentes técnicas para o transplante de córnea. A mais tradicional, ainda muito utilizada, é aquela em que toda a córnea é substituída e são dados pontos (até 16) para fixação.
“Essa técnica tem uma recuperação mais lenta, e a melhora da visão pode levar meses”, relatou a oftalmologista.
Por outro lado, procedimentos mais modernos, conhecidos como transplantes lamelares, substituem apenas partes da córnea – dependendo de onde está localizada a lesão.
“Essas técnicas são menos invasivas, não precisam de pontos e a recuperação costuma ser mais rápida”, afirmou.
Mesmo assim, Dra. Nayra destacou que qualquer transplante exige comprometimento. “Não é uma cirurgia simples. Requer acompanhamento rigoroso, uso correto de medicações e retorno constante ao consultório. O sucesso depende da parceria médico-paciente.”
Segundo a médica, o tempo de espera para a realização do transplante na Bahia ainda é alto – entre um ano e meio e dois anos.
“O paciente é inscrito na fila e passa por reavaliações até que surja uma córnea compatível. O SUS dá um bom suporte, e todos os convênios também cobrem o procedimento.”
Um dos maiores gargalos ainda está na logística. “A Bahia tem avançado na captação de córneas, mas a avaliação e análise final são feitas no banco de olhos do Hospital Roberto Santos, em Salvador. Quando a córnea vem de muito longe, muitas vezes chega fora do tempo ideal e acaba perdendo qualidade. Precisamos de centros de avaliação mais próximos e transporte mais eficiente.”
Para Dra. Nayra, a doação de córneas é um ato de solidariedade com impacto imenso. “Tem gente que não enxerga dos dois olhos, e a gente consegue devolver a visão com o transplante. Isso muda a vida da pessoa.”
Ela reforça a importância de campanhas de conscientização. “Ainda existe muita resistência à doação. Mas precisamos lembrar que hoje você pode doar, e amanhã pode ser alguém da sua família que precise. É um gesto de amor ao próximo.”