Entre fé, diplomacia e informação: jornalistas relatam missão de cobrir um Conclave por dentro do Vaticano
Direto de Roma, Lucas Saba e Márcio Campos, da Gazeta do Povo, comentam a expectativa pela escolha do novo Papa
O clima é de expectativa em Roma. Enquanto cardeais do mundo todo se reúnem para o Conclave que decidirá o próximo Papa, jornalistas de diversos países acompanham cada passo com atenção redobrada. Entre eles, dois brasileiros: Lucas Saba e Márcio Campos, da Gazeta do Povo, de Curitiba.
Para Lucas Saba, essa é a primeira cobertura de um conclave diretamente do Vaticano. Ele destaca a experiência como algo transformador, tanto no aspecto profissional quanto pessoal:
“É uma experiência única. Há uma expectativa muito grande de quanto tempo vai durar tudo isso. A gente veio pra fazer o pré, o durante e o pós. Está sendo enriquecedor.”
Ele aponta, porém, um desafio importante: “A maior dificuldade é ter acesso às informações confiáveis. Hoje em dia, tudo circula muito rápido e em muitos canais. Aqui, por exemplo, temos o Vatican News, que é quase um porta-voz oficial, mas é preciso cuidado e responsabilidade com o que se publica.”
Já Márcio Campos traz no currículo duas décadas de cobertura jornalística sobre religião. Mesmo assim, confessa que estar em Roma pela primeira vez para acompanhar um conclave é algo marcante.
“Escrevo sobre religião há 20 anos. Cobri o conclave que elegeu Bento XVI e o de Francisco, mas sempre da redação. Estar aqui em Roma é mágico. Estou matando a saudade da cidade e fazendo o que amo.”
Segundo ele, o jornalismo religioso, apesar de pouco reconhecido por muitos, tem um público gigantesco.
“O Brasil é o maior país cristão do mundo. A população evangélica está crescendo, os católicos continuam fortes. Existe uma demanda por jornalismo sério que fale de religião sem preconceito. É isso que procuro fazer.”
O novo Papa será italiano?
Questionados sobre a possibilidade de um novo Papa italiano, após quase 50 anos desde João Paulo I, os jornalistas avaliam com cautela. Márcio destaca que a nacionalidade já não é determinante.
“O passaporte italiano deixou de ser uma obrigação há muito tempo. Desde João Paulo II, a Igreja tem mostrado que o Papa pode vir de qualquer lugar. A expectativa por um italiano sempre existe, mas hoje a Igreja cresce mais na África, Ásia e América Latina. O Papa é o bispo de Roma, mas é também o líder da Igreja no mundo. Os cardeais sabem disso.”
Lucas Saba, por sua vez, revela sua torcida pessoal: “Como bom católico brasileiro, queria muito ver um Papa do Brasil. Já entrevistei Dom Odilo Scherer, por exemplo. Seria um presente enorme. O Brasil é um dos países com mais católicos no mundo.”
Ambos os jornalistas ressaltam a complexidade do papel papal no mundo atual. Mais que um líder espiritual, o Papa é também chefe de Estado e gestor de uma estrutura global e histórica.
“Ser Papa é um cargo muito difícil. Ele precisa ser piedoso, comprometido com a doutrina, diplomata, administrador, levantador de fundos… Nenhum CEO no mundo tem tantas responsabilidades.” Diz Márcio.
Lucas complementa ressaltando a exigência de um perfil moderno: “Os papas do século XXI precisam lidar com redes sociais, internet, informação instantânea. Desde João Paulo II, essa relação com a comunicação ganhou força. O Papa hoje precisa estar pronto pra tudo isso.”
*Com informações de Jorge Biancchi