Educação financeira infantil: Psicóloga explica como ensinar as crianças a lidarem com o dinheiro de forma saudável
Em um cenário onde as crianças são cada vez mais expostas ao consumo, falar sobre dinheiro desde cedo se torna uma necessidade
Em um cenário onde as crianças são cada vez mais expostas ao consumo, falar sobre dinheiro desde cedo se torna uma necessidade para garantir um futuro mais equilibrado financeiramente. A psicóloga financeira Fernanda Ribeiro destaca a importância de incluir as crianças nas conversas sobre finanças, não apenas como forma de ensinar números e cálculos, mas para ajudá-las a entender as emoções que envolvem o uso do dinheiro. “Dinheiro está inserido na vida da gente desde sempre, desde o nascimento até para morrer. Não tem como tirar isso das crianças”, afirma.
Segundo Fernanda, o Brasil e a Bahia têm taxas de endividamento consideráveis, com cerca de 40% da população negativada no Serasa. Ela ressalta a importância de iniciar a educação financeira desde a infância para evitar que as próximas gerações perpetuem padrões negativos. “A criança de hoje tem um poder de escolha muito grande e é bombardeada o tempo todo com apelos ao consumo. É fundamental ensiná-las a lidar com o dinheiro de forma consciente, para que não cresçam sem essa base essencial.”
Educação Emocional e Financeira Andam Lado a Lado
Fernanda Ribeiro frisa que ensinar finanças às crianças vai além de números, trata-se também de ensinar sobre emoções. “A maneira como lidamos com o dinheiro é a forma como lidamos com a vida. Então, falar de dinheiro para as crianças não é só ensinar matemática, mas também sobre emoções.”
Ela explica que, antes de falar especificamente sobre o dinheiro, é importante que os pais ajudem os filhos a nomear e entender suas emoções. “Isso pode ser feito de maneira lúdica, seja por meio de jogos ou historinhas, além da criação de regras para situações como ir ao mercado, onde se estabelece um acordo do que pode ser comprado, por exemplo”, sugere a psicóloga.
Ela ainda salienta que é necessário educar os pais antes de educar os filhos, já que as crianças reproduzem o comportamento dos adultos. “Se os pais gastam demais, os filhos podem seguir o mesmo caminho ou, em outro extremo, podem se tornar muito rígidos e econômicos. Nenhum dos extremos é saudável”, comenta.
Mesada: Uma Ferramenta de Aprendizado
Um dos métodos sugeridos por Fernanda para ensinar planejamento e responsabilidade financeira é o uso da mesada. Segundo ela, a mesada deve seguir regras claras e ser paga pontualmente. “A mesada traz segurança, autonomia e ensina a criança a planejar. É importante dividir a quantia em categorias, como poupança, doação, gastos e diversão, e fazer com que a criança participe das decisões sobre o uso do dinheiro”, explica.
Ela também reforça que não se deve recompensar os filhos por tarefas diárias. “Não pagamos para que os filhos façam suas obrigações dentro de casa. A mesada é diferente, é uma ferramenta para que eles aprendam a administrar o próprio dinheiro e a sonhar com objetivos de longo prazo.”
O Papel da Frustração no Processo de Aprendizado
Outro ponto crucial, segundo a psicóloga, é ensinar a lidar com a frustração. “A frustração faz parte da vida, e as crianças precisam aprender a lidar com ela. Esperar por algo que se deseja pode ser uma lição valiosa. Isso ajuda a preparar as crianças para as frustrações que inevitavelmente enfrentarão como adultos”, explica Fernanda.
Ela lembra que essa espera pode ser trabalhada de forma saudável. “Talvez a criança precise esperar dois meses para ganhar um brinquedo, ou talvez receba algo similar. O importante é que ela entenda o valor do esforço e da paciência.”
Modelos de Poupança e Conscientização
Fernanda ainda comenta sobre a tradicional prática de poupar com o cofrinho, que, segundo ela, ainda pode ser útil para crianças pequenas. “A criança precisa tocar no dinheiro e entender que ele é dela. No entanto, com o tempo, é possível migrar para soluções mais modernas, como contas bancárias infantis, onde elas podem visualizar melhor os valores e aprender a administrá-los.”
Ela reforça que educação financeira não é apenas sobre economizar, mas também sobre gastar com consciência. “Devemos prestar atenção às emoções envolvidas nos gastos, pois muitas vezes estamos compensando sentimentos negativos por meio do consumo.”
O Papel dos Pais na Educação Financeira
Por fim, a psicóloga financeira destaca o papel central dos pais no processo de educação financeira dos filhos. “Não podemos trabalhar o dinheiro com as crianças sem trabalhar os pais. É preciso que os adultos tenham uma relação saudável com o dinheiro para que possam transmitir esse aprendizado”, afirma.
Para Fernanda, o Dia das Crianças é uma excelente oportunidade para começar essa conversa em casa de forma leve e saudável. “Ensinar os filhos a comemorar suas conquistas e se perceberem capazes é um presente que tem valor imenso, muito além do que qualquer brinquedo pode oferecer”, conclui.
*Com informações do repórter Robson Nascimento