“É um novo capítulo da mesma guerra desde 1946”, afirma historiador sobre conflito entre Irã e Israel
Sobre a possibilidade de um conflito de grandes proporções, o historiador alerta para as consequências geopolíticas e econômicas.
A escalada da tensão entre Irã e Israel, que já resultou em mais de 200 mortes, reacende preocupações no cenário internacional e levanta dúvidas sobre uma possível guerra em escala global. Para o historiador Vicente Gualberto, o atual confronto é “um novo capítulo de uma novela que começou em 1946”.
Durante a entrevista, Gualberto contextualizou a origem dos conflitos na região.
“O Oriente Médio foi desenhado com régua pelos ingleses, sem respeitar a identidade cultural e territorial dos povos. O Estado de Israel foi literalmente tirado da cartola da ONU, em 1946, confiscando terras de países muçulmanos. Desde então, ninguém quis perder território, e o conflito persiste até hoje”, explicou.
Segundo o historiador, a rivalidade entre Irã e Israel, apesar de hoje parecer inevitável, nem sempre existiu.
“Por incrível que pareça, o Irã era amigo de Israel. Foi o único país muçulmano que reconheceu o Estado judeu. Mas em 1979, após a Revolução Islâmica, o Irã se transformou em uma república teocrática, onde a religião passou a ditar as leis. A partir daí, o Irã passou a considerar Israel um inimigo e a financiar grupos como o Hamas e o Hezbollah”, afirmou.
Gualberto vê o ataque de Israel como uma ação estratégica. “Israel tenta cortar a cabeça da serpente. O Irã tem um programa nuclear que eles alegam ser para fins pacíficos, mas todos sabem que o objetivo é produzir armas. Para Israel, ter um inimigo histórico com bomba atômica é um risco inaceitável. O ataque é preventivo, como já fizeram com o Iraque décadas atrás”, disse.
Sobre a possibilidade de um conflito de grandes proporções, o historiador alerta para as consequências geopolíticas e econômicas.
“Há risco real de o conflito escalar. Os Estados Unidos, apesar de prometerem não se envolver em guerras sem interesse direto, podem se aliar a Israel contra o Irã. Além disso, o Irã controla o Estreito de Ormuz, porta de saída do petróleo do Oriente Médio. Qualquer tensão ali faz o preço do petróleo disparar, o que afeta a economia global, inclusive o Brasil”, explicou.
Mesmo com os avanços tecnológicos de defesa de Israel, como abrigos antibomba e sistemas de mísseis, Gualberto aponta que o país está sofrendo com a intensidade dos ataques.
“O Irã prometeu uma resposta como nunca antes vista. Israel tem um sistema defensivo muito forte, mas está sendo impactado. A destruição é grande e o clima é de tensão permanente”, completou.
Vicente Gualberto deixou claro que, apesar de não acreditar que a guerra vá se transformar imediatamente em um conflito mundial, os efeitos já são sentidos.
“Pode não ser uma guerra global com tanques e soldados em vários países, mas já é uma guerra global do ponto de vista econômico e diplomático”, concluiu.