Discriminação racial é consequência do contexto histórico, dizem especialistas
O período de colonização e escravidão influenciou a construção social da realidade
O jogador de futebol Vini Jr virou a pauta principal do mundo dos esportes após sofrer racismo em uma partida entre Real Madrid e Valencia, pelo Campeonato Espanhol, realizada no último domingo (21). Na ocasião, o brasileiro foi chamado de “mono” (macaco) pela torcida valenciana.
Não é a primeira vez que casos assim acontecem, tanto no mundo dos esportes, quanto em demais setores. Segundo o advogado Danilo Silva, especialista em ciências criminais, esse tipo de situação é um reflexo de contexto histórico.
“O fato envolvendo Vinicius Júnior é uma consequência de todo esse perfil que envolve classe dominante e dominadas, os colonizadores e colonizados. O que mais assusta diante desse contexto, é que nós tivemos um período pós segunda guerra mundial em que diversas nações começaram a se preocupar com o que fazer, considerando que saímos de um holocauto que seres humanos perseguiram outros humanos. Só que antes do holocausto, isso já acontecia no Brasil e com o continente africano, assim também como o ‘Massacre dos Tamoios’ na nação brasileira, e ainda assim a organização mundial não se preocupava com isso. O pós-guerra marca um período de quando essa preocupação começou”, explica.
Conforme a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Art. 1º: Serão punidos, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Portanto, o racismo é atestado como crime perante a lei.
Para a pesquisadora Sandra Maria Cerqueira, infelizmente, casos assim ainda são comuns no cotidiano de muitos cidadãos.
“No nosso caso, não é matar um leão por dia, mas vários leões. Porque a cada segundo as coisas acontecem. O fato é que o racismo é uma mazela mundial, e aqui (Brasil) faz com que as pessoas negras estejam com a vida sobre ameaça constantemente. A ideia de branqueamento, contraindo todas as lógicas, ainda persiste, e a ideia de que é possível dizimar a população negra para manter somente a população branca é incoerente, mas na cabeça da branquidade é possível”.
Segundo a psicóloga comportamental, Vitória Assunção, esse tipo de atitude pode ser monitorado desde a infância.
“O racismo vai acontecer na escola, em casa, nas mídias e em tudo que a criança. É na infância que construímos nossas crenças e visão de mundo, e quando a criança recebe esse tipo de reprodução ela também vai reproduzir dessa forma. E isso gera consequência tanto para o menor que sofre o racismo, quanto para aquele que reproduz, pois ele cresce achando que isso é normal. Quando o adulto ver essa atitude e não corrige, essa criança vai continuar, e, como Djamila Ribeiro diz, o silêncio faz a manutenção do racismo. Quando nos silenciamos para essas ações, estamos contribuindo para o racismo cotidiano”