Saúde

Diagnóstico do autismo exige atenção da família, da escola e de profissionais, alerta especialista

De acordo com Silvana Carneiro, o número de casos tem aumentado sim, mas dois fatores precisam ser considerados.

08/06/2025 15h42
Diagnóstico do autismo exige atenção da família, da escola e de profissionais, alerta especialista

Silvana Carneiro, pedagoga, psicopedagoga e psicanalista com foco em autismo e TDAH, foi entrevistada no programa De Olho na Cidade, da Rádio Sociedade News, para discutir um tema que tem mobilizado escolas, famílias e profissionais da saúde: o diagnóstico do autismo.

“O diagnóstico é como um quebra-cabeça”, explicou Silvana. “Ele precisa da escola, da família, do próprio paciente. É uma construção coletiva. O psicopedagogo não fecha diagnóstico, ele levanta uma hipótese que será confirmada ou não por outros profissionais”, afirmou.

Segundo ela, o primeiro passo é procurar um especialista capacitado e com experiência no nicho do autismo.

“Indicações de professores e profissionais que já acompanham a criança são fundamentais. Eu mesma, se recebo um caso que não apresenta características de autismo ou TDAH, encaminho para outro profissional que atue naquele campo específico.”

Apesar dos sinais, muitas famílias relutam em buscar ajuda. “Infelizmente, elas demoram a aceitar que algo está fora do esperado. É o que chamamos de ‘luto do filho perfeito’. Elas sonharam com um filho ideal e, quando percebem desvios, muitas ainda não estão preparadas para encarar essa nova realidade”, revelou a especialista.

Esse adiamento pode comprometer o desenvolvimento da criança. “A escola tem um papel essencial, porque é ali que as dificuldades cognitivas, de atenção e concentração se manifestam de forma clara. O professor é o primeiro a notar, e precisa ser ouvido”, pontuou.

Silvana também alertou para a prática comum de buscar diagnósticos pela internet. “Muitas famílias chegam à clínica com um diagnóstico pré-estabelecido pelo Google. Isso é perigoso. É preciso escutar o profissional, confiar no processo de avaliação. Cada caso é único”, disse.

“Eu sempre digo: a criança não é o autista, ela é o João, a Maria, o Pedro. O transtorno não define quem ela é. O diagnóstico não é um rótulo, é um ponto de partida”, destacou. Segundo Silvana, com apoio, estímulo e compreensão, a criança pode desenvolver todo o seu potencial.

De acordo com Silvana, o número de casos tem aumentado sim, mas dois fatores precisam ser considerados.

“Hoje temos mais nascimentos prematuros e mais recursos para identificar os transtornos. Além disso, há diagnósticos errados — muitas vezes influenciados pelo uso excessivo de telas, que prejudica a atenção, a concentração e a interação social.”

Ela relata que é comum famílias relatarem medo do diagnóstico e associarem sintomas a um possível autismo, quando, na verdade, o que há é um uso exacerbado de dispositivos eletrônicos.

“O excesso de telas interfere diretamente nas funções cognitivas e no comportamento social. Às vezes, basta reduzir esse uso para perceber que não se trata de autismo.”

“Não são só crianças. Adolescentes também são impactados. Até nós adultos, com maturidade cognitiva, somos afetados. Agora imagine uma criança ou um adolescente, que não tem essa noção de tempo. A exposição excessiva atrapalha o desenvolvimento e a interação social”, enfatizou.

Ela ainda chamou atenção para um fenômeno recorrente: “A criança repete falas de personagens, imita comportamentos, e a família pensa que é autismo. Não é. É o efeito da tela.”

“Os pais precisam ser exemplo. Não adianta querer tirar a tela da criança se você passa o dia no celular. Criança precisa correr, pular, brincar. Quando a gente pretende aumentar a família, como eu e meu esposo, já pensamos nisso: reduzir o uso de telas em casa. A responsabilidade começa pelos adultos.”

Silvana Carneiro atende no Núcleo Psicanalítico Inteiramente (NPI), em Feira de Santana, com foco em psicopedagogia infantil e psicanálise para crianças e adultos.

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