Deyvid Bacelar defende transição energética justa, soberana e popular na COP 30
Bacelar foi um dos participantes do painel “Ação Sindical no Sul Global por Uma Transição Energética Justa, Soberana e Popular”

O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros e Petroleiras (FUP), Deyvid Bacelar, afirmou nesta quinta-feira (13/11) que o Brasil precisa investir no desenvolvimento de tecnologia própria para que a indústria de energias renováveis gere empregos de qualidade no país. “Atualmente, quem trabalha na indústria de óleo e gás tem média salarial seis vezes maior do que aqueles que atuam nos setores de energia eólica e solar”, destacou o sindicalista, que integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CDESS) e o Conselho de Participação Social (CPS) do governo Lula.
Bacelar foi um dos participantes do painel “Ação Sindical no Sul Global por Uma Transição Energética Justa, Soberana e Popular”, realizado no auditório Cumaru do Pavilhão Brasil, na Zona Azul, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30). O evento teve início em 10/11 e segue até 21/11, em Belém do Pará.
O painel, mediado pela diretora da FUP Bárbara Bezerra, contou ainda com a presença do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho; do diretor técnico do Ineep, Mahatma Ramos; do economista e técnico do Dieese, Cloviomar Cararine; do secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa; do coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Robson Formica; e da coordenadora da Trade Unions for Energy Democracy (TUED) na América Latina, a colombiana Lala Peñaranda.
Durante sua participação, Bacelar ressaltou a relevância do debate sobre transição energética na COP 30 e lembrou que, como dirigente da FUP, vem discutindo o tema em vários estados e até em outros países, com o objetivo de construir uma proposta de transição justa, soberana e popular. “Após um diálogo amplo com a academia, o Dieese, o Ineep e os movimentos sociais, decidimos elaborar um documento que será apresentado ao governo com base nas discussões realizadas aqui na COP 30, valorizando a pluralidade de ideias”, afirmou.
Ele destacou que o conceito de transição energética justa precisa considerar as particularidades do Brasil e de outras nações. “A realidade dos países do Sul Global é muito diferente da do Norte Global”, explicou. “O Brasil já possui uma matriz energética 50% renovável e uma matriz elétrica 90% renovável. A maioria dos países do Norte não tem isso. Por isso, não é justo que o Norte Global defina as regras para o Sul, que já cumpre um papel importante, mas ainda precisa acelerar seu desenvolvimento econômico, social e sustentável.”
Bacelar ressaltou ainda que a transição energética deve considerar as pessoas envolvidas no processo. “A Bahia, por exemplo, é a maior produtora de energia eólica do país. Mas para que os parques funcionem, precisamos importar tecnologia chinesa ou europeia. Na energia solar acontece o mesmo. Ainda não temos uma indústria nacional que gere empregos qualificados. Os empregos criados são menores e de baixa qualidade, com remunerações 30% a 40% inferiores às pagas pelo setor de óleo e gás”, pontuou.
Segundo ele, para que a transição seja justa e soberana, é fundamental que a nova indústria seja instalada no Brasil e nos demais países que necessitam desenvolver essa tecnologia. Ao final de sua fala, Bacelar anunciou a criação do Fundo Nacional para viabilizar essa Transição Energética Soberana, Justa e Popular.
OBSERVATÓRIO
Também foi anunciada a criação do Observatório do Setor de Óleo e Gás, coordenado pelo Ineep, que terá como foco a transição energética justa no país. “É um painel de indicadores fruto de uma ação coletiva, que buscará trazer diagnósticos e contribuir para a construção de políticas públicas no Brasil. Estamos monitorando o setor dentro das fronteiras brasileiras, acompanhando empresas transnacionais, estatais e privadas que exploram petróleo e muitas vezes remetem essa renda ao exterior”, explicou Mahatma Ramos.
Encerrando o painel, o ministro Luiz Marinho afirmou que as pessoas precisam estar no centro do debate sobre transição energética. “A COP é um sucesso, o presidente Lula se posicionou muito bem ao liderar esse debate, mas os países ricos, apesar de concordarem com o discurso, ainda não aceitaram colaborar efetivamente”, avaliou. “E os bilionários brasileiros também não querem assumir sua parte para que possamos realizar uma transição justa”, acrescentou.
Marinho destacou o papel da mobilização popular e citou a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil: “Somente o bafo quente das ruas no cangote dos parlamentares possibilitou uma aprovação unânime. As coisas funcionam com mobilização e gente na rua”.
A COP 30 é a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, encontro global que reúne líderes mundiais, cientistas, ONGs e representantes da sociedade civil para discutir estratégias de combate às mudanças climáticas.






