Da ferrovia às casas antigas: Arquiteta resgata memória arquitetônica de Feira de Santana
Mana Lula destaca importância de preservar memória e arquitetura de Feira de Santana
A arquiteta e urbanista Manuela Lula, conhecida como Mana Lula, participou da série especial “Feira de Santana e sua história: Rumo aos 200 anos”, onde destacou aspectos históricos, arquitetônicos e culturais da cidade, que completa 192 anos em setembro.
“Estou muito feliz de estar aqui mais uma vez falando da minha cidade que tanto amo e defendo. Estamos a apenas oito anos do bicentenário, e é fundamental relembrar nossa trajetória, nossas perdas e conquistas”, afirmou a arquiteta.
Mana Lula resgatou a história da ferrovia que ligava Feira de Santana a Cachoeira, inaugurada em 1876.
“Quem olha para o local atualmente não imagina que ali existiu a primeira estação ferroviária de Feira. Era uma linha que facilitava o transporte de pessoas e mercadorias entre Feira e Salvador, quando ainda não existia a BR-324”, explicou.
Segundo a urbanista, a ausência de preservação desses marcos históricos é um desafio para a cidade.
“Infelizmente, perdemos muito desse patrimônio. Hoje restam apenas registros e fotos, mas não há representações físicas. Isso é lamentável, porque desenvolvimento também passa por preservar a memória.”
Mana Lula também destacou a importância do livro escrito pelo norte-americano Rollie Poppino, considerado o primeiro historiador de Feira de Santana.
“É uma obra muito rica, que nasceu da tese de doutorado dele. Ele estudou as transformações da cidade, desde o ciclo do gado até a linha férrea. Acho muito interessante que um estrangeiro tenha se encantado por Feira e registrado essa história, que até hoje serve de referência”, comentou.
Ao falar sobre a identidade arquitetônica da cidade, Mana Lula destacou a presença de estilos ecléticos e neoclássicos, além de construções que resistem ao tempo, como o prédio do Cuca.
“Gosto muito do Cuca, é como se fosse um respiro no meio da vida comercial agitada. Já fiz teatro e aulas de artes lá, e considero um espaço que eterniza nossa história”, disse.
Ela também lembrou dos antigos abrigos, Marajó e Predileto, dos quais apenas dois resistem. “É uma história que foi se perdendo com o tempo, mas que precisa ser contada e valorizada.”
A urbanista relatou seu hábito de registrar casas antigas em diferentes bairros da cidade, observando como a arquitetura revela o crescimento urbano.
“Cada bairro tem sua característica. No centro, temos casas mais antigas, enquanto na Santa Mônica aparecem construções das décadas de 60 e 70. Também gosto de destacar arquitetos que marcaram nossa cidade, como Amélio Amorim, que trouxe elementos regionais do sertão para sua obra”, explicou.
Com seu trabalho nas redes sociais, Mana Lula afirma ter despertado nos jovens um novo olhar sobre a cidade.
“Já ouvi adolescentes dizerem que nunca reparavam nas casas antigas de Feira, mas que, depois de assistir aos meus vídeos, passaram a valorizar esses detalhes. Esse retorno é muito gratificante e mostra que estamos mudando a mentalidade em relação à preservação cultural”, concluiu.