Comer é um ato político: nutricionista alerta para o papel da alimentação na saúde e na sociedade
A ideia de que comer é um ato político se relaciona diretamente com a forma como os alimentos são produzidos, acessados e consumidos na sociedade.
“Alimentar-se bem vai muito além da nutrição. É uma escolha que envolve meio ambiente, cultura, economia e políticas públicas”, afirma Morgana Mascarenhas, nutricionista e professora do curso de Nutrição da Unex. Morgana abordou a importância da educação alimentar e o papel político que cada refeição pode representar.
Segundo a especialista, a ideia de que comer é um ato político se relaciona diretamente com a forma como os alimentos são produzidos, acessados e consumidos na sociedade.
“O alimento não é só para nutrição. Ele está inserido em um contexto social, ambiental e cultural. Quando escolhemos consumir alimentos orgânicos, com baixo teor de agrotóxicos, ou reduzimos o consumo de ultraprocessados, estamos também cuidando do planeta e nos posicionando contra práticas industriais prejudiciais”, explicou.
Um dos pontos centrais da conversa foi o avanço da obesidade infantil no Brasil, considerada hoje um dos principais problemas de saúde pública. De acordo com Morgana, esse fenômeno está ligado a diversos fatores, como a genética, o sedentarismo, o uso excessivo de telas e, principalmente, a alimentação inadequada.
“Se uma criança tem pai e mãe obesos, ela tem mais de 50% de chance de desenvolver obesidade. Mesmo sem esse fator genético, o risco ainda existe”, alertou.
Outro agravante apontado é o custo elevado dos alimentos saudáveis. “Infelizmente, frutas, verduras e legumes — alimentos essenciais para uma boa saúde — são mais caros do que produtos industrializados. Isso contribui para escolhas alimentares menos saudáveis entre a população de baixa renda”, ressaltou.
No entanto, Morgana também apresentou alternativas para contornar essa realidade: “Buscar frutas da estação pode ser uma boa estratégia. Elas costumam ter um preço mais acessível e são tão nutritivas quanto outras opções mais caras.”
A especialista também reforçou a importância das políticas públicas no enfrentamento da obesidade infantil: “É preciso um olhar mais atento das autoridades. A criança obesa de hoje pode se tornar um adulto com doenças crônicas como hipertensão e diabetes tipo 2 — problemas que, cada vez mais, surgem de forma precoce”, pontuou.
Diante desse cenário, a professora destacou o papel fundamental do nutricionista na promoção da saúde.
“Nossa principal função é a educação alimentar. Mudar hábitos não é fácil, mas é necessário. As crianças se espelham nos pais, por isso o trabalho começa dentro de casa. A escolha de bons carboidratos, proteínas, vitaminas e minerais é essencial para um crescimento saudável”, explicou.
Ela também alertou para o aumento de sintomas relacionados à má nutrição, como fadiga e cansaço em crianças, muitas vezes causados por carência de nutrientes.
“Não podemos pensar que alimentação e atividade física são só estética. São saúde. Não dá para tratar uma doença crônica sem rever o estilo de vida e os hábitos alimentares”, afirmou.
Ao falar sobre a preparação dos futuros profissionais da área, Morgana ressaltou os diferenciais do curso de Nutrição da Unex.
“Temos uma forte atuação social, com projetos em comunidades, onde os alunos já exercitam a prática da orientação nutricional. Além disso, contamos com uma clínica-escola, onde casos específicos são acompanhados de forma individualizada”, destacou.
Ela também lembrou da importância da presença do nutricionista em políticas públicas como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), onde o profissional tem a responsabilidade de orientar e qualificar a alimentação oferecida nas escolas públicas.
“O nutricionista deve estar inserido nas decisões, inclusive para controlar a oferta de alimentos ultracalóricos nas cantinas escolares”, concluiu.
Por fim, Morgana deixou um recado direto e importante: “Não é mais aceitável ver alimentação e saúde como um luxo. Alimentar-se bem é um direito, e promover isso é uma responsabilidade coletiva.”