Carro elétrico é uma furada? Especialista analisa mercado e desafios da mobilidade elétrica no Brasil
O carro elétrico de hoje é uma versão em evolução do que se tornarão as alternativas de mobilidade no futuro
Se você gera a própria energia, utiliza para pequenos e médios deslocamentos urbanos diários, entende o carro como um bem em depreciação contínua e não o utiliza para viajar, o carro elétrico é uma excelente opção.
A questão do carro elétrico é inexorável. Ainda que a tendência de curto e médio prazos sejam modelos combinados de energia propulsora (híbrido), o carro elétrico de hoje é uma versão em evolução do que se tornarão as alternativas de mobilidade no futuro.
É um caminho sem retorno, mas ainda uma pequena ruptura diante de seu potencial nessa indústria, que nunca mais será a mesma. Ford, GM, VW, Nissan, Toyota, Stellantis etc. são as HP, Xerox, IBM, Nokia etc. Ou investem em novas tecnologias ou sofrerão com os ventos da inovação.
Nada mudará o ímpeto, a eficiência (não importa o custo) e a produtividade da indústria chinesa. Isso é bom? Não necessariamente! Depende de onde e de quem observa. No curto e médio prazo, estaremos cada vez mais dependentes da China. Isso significará apenas uma mudança de “patrão” para os países fora do eixo desenvolvido, em direção à dominação tecnológica dos chineses.
Sobre a desvalorização dos veículos elétricos, ela está concentrada em veículos de alto valor, o que ocorre inclusive com os carros à combustão.
A verdadeira revolução do carro elétrico ainda não chegou ao Brasil, porque o produto, em si, não é acessível em termos de preço. Em geral, carro zero não é acessível no Brasil, dado o acesso ao crédito e os custos de transação da indústria. O mercado de carro elétrico, hoje, é de veículos novos. Se não houver grande demanda nele, não derivará um bom mercado de usados, pelo menos por enquanto.
E o lobby das montadoras convencionais tem criado barreiras à entrada das empresas chinesas no Brasil.
Tornando o carro elétrico acessível e com algum grau de qualidade competitiva (o que já existe), com um preço de entrada menor do que o praticado hoje no mercado, veremos um aumento significativo de demanda, derivada da sensibilidade ao preço.
Mas essa formação de preço é tão complexa e manipulada quanto imprevisível, com muitos atores e interesses em jogo.
Livre mercado? Só para quem acredita em contos de fadas.
Por Carlos Eduardo Cardoso de Oliveira, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e professor adjunto da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)