Cardiologista comenta nova regra da Anvisa sobre uso de canetas para emagrecer
A decisão foi tomada após a divulgação de uma carta pelo CFM na qual os médicos defendiam a necessidade de um maior controle na prescrição dessa classe de medicamentos
A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de exigir prescrição médica com receita retida para a compra das chamadas “canetas emagrecedoras” foi recebida com aprovação por médicos. Entre eles está o cardiologista Dr. Israel Reis, que conversou com nossa equipe sobre os impactos da nova medida e o uso crescente – e muitas vezes inadequado – dessas substâncias.
“As canetas que estamos falando são uma classe de drogas chamadas de análogos do GLP-1. Elas surgiram há cerca de cinco ou seis anos e revolucionaram o tratamento da obesidade”, explica o médico. “Antes delas, os medicamentos permitiam uma perda de peso de 3 a 5%. Com essas novas drogas, falamos de uma perda média de 17% ao ano – e há casos de pacientes que perdem até 30%, algo comparável à cirurgia bariátrica.”
Entretanto, o sucesso do tratamento também atraiu o uso indiscriminado. “Quem é que não quer perder 2 ou 3 quilos para entrar num vestido de noiva, por exemplo?”, questiona Dr. Israel. “Muitas pessoas começaram a usar sem diagnóstico de obesidade, sem orientação médica, por vaidade ou pressão estética.”
O especialista alerta que o uso inadequado representa riscos sérios à saúde. “Tem gente ajustando a dose por conta própria, usando diariamente uma droga que deveria ser aplicada semanalmente. E ainda há casos de compra sem receita, importação ilegal e até comércio clandestino. Já vimos canetas sendo transportadas sem qualquer cuidado com a conservação, o que compromete a eficácia e segurança do produto.”
A banalização do uso dessas drogas tem gerado consequências graves. “A gente começa a ver efeitos colaterais como vômitos intensos e diarreias, e aí quem realmente precisa do medicamento começa a ficar com medo. O remédio ganha uma fama negativa por causa do uso errado”, ressalta.
A nova medida da Anvisa, portanto, é vista por ele como um passo necessário para conter os abusos.
“A receita retida na farmácia é fundamental para garantir o controle. Como uma droga com esse impacto poderia ser vendida sem qualquer exigência?”, questiona. “No mundo todo já há escassez desse tipo de medicamento por causa da alta demanda, muitas vezes motivada por expectativas que não são realistas.”