Cardeal mais velho do Brasil no Conclave atua nos bastidores e orienta colegas brasileiros
Segundo o cardeal, apesar da diversidade de contextos e opiniões, há um sentimento de continuidade no ar.
Mesmo impossibilitado de votar na escolha do novo Papa por ter ultrapassado os 80 anos, o cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida (SP), segue exercendo papel de liderança nos bastidores do Conclave em Roma. Em entrevista concedida a Jorge Biancchi, Dom Raymundo falou sobre o clima entre os cardeais, a unidade da delegação brasileira e os caminhos que acredita que a Igreja seguirá após o pontificado de Francisco.
“Estamos todos hospedados no Colégio Pio Brasileiro, os sete cardeais eleitores e eu, que não voto, mas participo das reuniões e celebrações. Isso favorece muito a convivência fraterna e o diálogo entre nós”, afirmou.
O cardeal, que participou do Conclave que elegeu o Papa Francisco em 2013, conta que tem sido uma presença constante nas congregações gerais – reuniões preparatórias para o Conclave – e nos momentos de oração que marcaram os nove dias de luto pela morte do Pontífice.
Dom Damasceno descreveu o ambiente das congregações como respeitoso e plural, destacando que todos os cardeais — eleitores ou não — têm voz nas discussões.
“É um encontro muito fraterno. Não há tensões, não há debates polêmicos. Cada um fala sobre os desafios da sua região, da sua Igreja, e isso enriquece muito o processo de discernimento”, explicou.
Segundo o cardeal, apesar da diversidade de contextos e opiniões, há um sentimento de continuidade no ar. A maioria dos cardeais expressa o desejo de que a linha pastoral e os compromissos de Francisco — especialmente com os pobres, a sinodalidade, o diálogo inter-religioso e o cuidado com o meio ambiente — não sejam interrompidos.
“Vai haver, sim, uma continuidade naquilo que foi iniciado por Francisco. O processo da sinodalidade, por exemplo, é algo que ele lançou com profundidade, mas não concluiu. O próximo Papa certamente vai amadurecer ainda mais essa caminhada de comunhão e missão”, afirmou.
Dom Damasceno tem se colocado como conselheiro informal dos cardeais brasileiros, que participarão diretamente da eleição do novo Papa. Segundo ele, a convivência próxima tem permitido trocas importantes de impressões e reflexões.
“Nós conversamos muito, partilhamos opiniões. Não se trata de fazer campanha, mas de discernir juntos qual o caminho mais adequado para a Igreja neste momento”, afirmou. “Temos que ouvir o Espírito Santo, claro, mas também ouvir uns aos outros com abertura e humildade”, aconselhou.
Ao comentar sobre os grandes temas debatidos nas congregações, Dom Damasceno reforçou que o compromisso com os mais pobres, a dignidade humana e o cuidado com a casa comum devem seguir como pilares da Igreja no próximo pontificado.
“Francisco nos chamou a atenção para o drama da exclusão, para a defesa dos direitos humanos e da vida, e também para a crise ambiental. Ele lançou documentos profundos sobre isso’. Tudo isso precisa continuar”, afirmou o cardeal.
Para ele, o futuro da Igreja deve ser moldado por uma visão de fraternidade universal:
“Somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai. Precisamos viver em paz e respeito, nas diferenças culturais, mas sempre com amor. A Igreja tem que ser espaço de acolhimento, de esperança e de escuta.”
Com o fim das congregações gerais e a proximidade do início oficial do Conclave, Dom Damasceno diz que o clima entre os cardeais é de serenidade e compromisso.
“A escolha do novo Papa é um momento decisivo, mas também de muita confiança. O Espírito sopra onde quer, e a Igreja saberá ouvir”, concluiu.
*Com informações de Jorge Biancchi, direto de Roma