Calor extremo e poluição já causam mais de 3 milhões de mortes por ano, aponta relatório internacional
Estudo da revista The Lancet revela que o avanço do aquecimento global e a queima de combustíveis fósseis estão agravando crises de saúde, ampliando mortes por calor extremo e poluição em todo o planeta.

Um levantamento global divulgado pela revista científica The Lancet revela um dado alarmante: mais de 3 milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência do calor extremo e da poluição. O estudo faz parte da publicação Lancet Countdown on Health and Climate Change, elaborada em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e coordenada pela University College London.
O relatório, que contou com a participação de 128 especialistas de mais de 70 instituições acadêmicas e organismos da ONU, mostra que os efeitos do aquecimento global têm causado impactos crescentes na saúde humana. Desde os anos 1990, o número de mortes associadas às altas temperaturas aumentou 23%, chegando a 546 mil óbitos por ano. Além disso, a queima de combustíveis fósseis foi responsável por cerca de 2,52 milhões de mortes em todo o mundo.
No Brasil, a situação também preocupa. Entre 2012 e 2021, o país registrou uma média anual de 3,6 mil mortes causadas pelo calor, um número 4,4 vezes superior ao da década de 1990. Segundo os pesquisadores, os riscos à saúde provocados pelas mudanças climáticas atingiram níveis inéditos e crescem em ritmo acelerado.
Dos 20 indicadores utilizados na análise, 13 alcançaram recordes negativos em 2024. Em contrapartida, a transição para fontes de energia limpa tem salvado vidas: estima-se que 160 mil mortes por ano sejam evitadas graças à produção de energia renovável.
Um dos pontos mais preocupantes do estudo é o aumento no número de dias de calor extremo. Em média, cada pessoa esteve exposta a 16 dias de calor intenso em 2024, o maior valor já registrado. Na América do Sul e em regiões da África Subsaariana, as ondas de calor superaram os 40 dias. No Brasil, a média foi de 15,6 dias, sendo que 94% desses eventos não teriam ocorrido sem o agravamento das mudanças climáticas.
O ano de 2024 também entrou para a história como o mais quente já registrado, ultrapassando pela primeira vez o limite de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Os pesquisadores alertam que o calor excessivo não só eleva a mortalidade, mas também prejudica o bem-estar físico e mental. Entre as atividades mais afetadas estão o trabalho, os exercícios físicos ao ar livre e até o sono.
As condições climáticas mais quentes e secas também têm intensificado os incêndios florestais e ampliado o número de pessoas em situação de insegurança alimentar.
No caso brasileiro, o aumento das temperaturas levou a 352 horas adicionais de risco de estresse térmico durante atividades físicas, em comparação com a média da década de 1990. A força de trabalho também foi impactada: estima-se que o país tenha perdido cerca de 6,8 bilhões de horas potenciais de trabalho — um salto de 51% em relação ao mesmo período.
Outros dados do relatório destacam que:
- Entre 2020 e 2024, o Brasil enfrentou em média 41 dias por ano com alto risco de incêndios florestais, um aumento de 10% em relação a 2003-2012;
- A área de terra submetida a secas extremas por pelo menos um mês ao ano cresceu quase dez vezes, passando de 5,6% (1951-1960) para 72% (2020-2024);
- A temperatura da superfície do mar nas áreas costeiras brasileiras foi 0,65°C superior à média entre 1981 e 2010, ameaçando a pesca e os ecossistemas marinhos;
- Em 2024, mais de 1 milhão de brasileiros viviam a menos de um metro acima do nível do mar, expostos aos riscos do avanço das águas e aos impactos na saúde.
O Lancet Countdown reforça que os efeitos da crise climática já são uma realidade concreta e que a adoção urgente de medidas sustentáveis, como a redução do uso de combustíveis fósseis e o investimento em energia limpa, é essencial para salvar vidas e garantir um futuro mais saudável para as próximas gerações.







