Bolsonaro pede desculpas a Moraes e nega tentativa de golpe: “Golpe é algo abominável”
Ex-presidente está sendo interrogado nesta terça-feira (10) no STF sobre tentativa de golpe; PGR o aponta como figura central na articulação
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento nesta terça-feira (10) ao Supremo Tribunal Federal (STF) e afirmou que “nunca se cogitou a possibilidade de golpe” entre seus aliados durante o seu governo. Na oitiva, ele também pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes e admitiu que não tinha provas ao acusar magistrados da Corte de receberem propina durante as eleições de 2022.
“Da minha parte, da parte de comandantes militares, nunca se falou em golpe. Golpe é uma coisa abominável. O golpe até seja fácil começar, o after day [dia seguinte] que é imprevisível e danoso para todo mundo. O Brasil não poderia passar por uma experiência dessa, e não se foi cogitado hipótese alguma de golpe no meu governo”, disse Bolsonaro.
O ex-presidente é réu na ação penal que apura tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A Procuradoria-Geral da República (PGR) o aponta como figura central na organização investigada, que também inclui militares e ex-integrantes do governo federal. Segundo a PGR, o grupo elaborou uma narrativa de fraude nas eleições e articulou medidas para deslegitimar o resultado das urnas. Documentos e reuniões internas indicariam intenção de promover uma ruptura institucional.
Durante o interrogatório, ao ser questionado diretamente por Moraes sobre as acusações contra ministros do STF, Bolsonaro admitiu que não tinha qualquer prova das alegações feitas em uma reunião com aliados em julho de 2022, na qual mencionou valores ilegais que chegariam a US$ 50 milhões. O encontro foi gravado e o vídeo anexado aos autos do inquérito.
“Não tem indícios nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fosse outros três ocupando, teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três”, declarou o ex-presidente.
Antes do depoimento, Moraes negou um pedido da defesa para exibir vídeos durante a oitiva. Os advogados queriam utilizar recursos audiovisuais, mas o ministro explicou que o interrogatório é destinado à autodefesa, não à apresentação de novas provas. Questionado sobre a decisão, Bolsonaro respondeu: “Não achei nada”.
No depoimento, Bolsonaro também reforçou que sempre atuou dentro dos limites constitucionais, mesmo admitindo que se exaltou em algumas ocasiões: “Não me viram desrespeitar uma só ordem, não me viram em nenhum momento agir contra a constituição. Eu joguei dentro das quatro linhas o tempo todo. Muitas vezes eu me revoltava, falava palavrão, falava o que não devia falar, sei disso. Mas no meu entender fiz aquilo que tinha que ser feito”, completou.
Além de Bolsonaro, a ação penal ouviu nesta semana outros investigados, como o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres; o ex-chefe do GSI, general Augusto Heleno; o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier; o ex-ajudante de ordens, Mauro Cid; e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Após a fase de questionamentos feita por Moraes, o interrogatório prossegue com a participação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e, em seguida, as defesas dos demais réus podem optar por interrogar o ex-presidente.