Autoridades contestam ranking que coloca Feira como a cidade mais violenta do Brasil e a 22ª do mundo
A divulgação causou reação imediata de autoridades da segurança pública, que questionaram os critérios da pesquisa e destacaram os avanços locais no combate à criminalidade.
Mesmo com as reduções expressivas nos índices de homicídios ao longo de 2025, Feira de Santana foi listada como a cidade mais violenta do Brasil e a 22ª mais violenta do mundo, segundo a pesquisa divulgada pela ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal, com base em dados de 2024. A divulgação causou reação imediata de autoridades da segurança pública, que questionaram os critérios da pesquisa e destacaram os avanços locais no combate à criminalidade.
De acordo com o estudo, divulgado pela Revista Exame, Feira de Santana tem uma taxa de 55,63 homicídios por 100 mil habitantes. A cidade baiana aparece no ranking ao lado de outras sete brasileiras: Recife, Fortaleza, Salvador, Maceió, Porto Velho, Manaus e Caruaru. No total, essas oito cidades registraram 6.451 homicídios em 2024.
No entanto, os dados mais recentes da Secretaria de Segurança Pública da Bahia apontam uma realidade distinta para 2025. Segundo levantamento oficial, entre janeiro e maio deste ano, Feira de Santana apresentou uma queda de 32,43% nos assassinatos em comparação ao mesmo período do ano anterior — uma das maiores reduções da última década.
Para o delegado Dr. Yves Correia, os dados oficiais mostram um avanço significativo no enfrentamento à criminalidade.
“A redução é clara. Estamos tendo quedas históricas. Fevereiro teve a maior redução em 15 anos, março a maior em 20 anos e maio fechou com apenas 15 homicídios, o melhor resultado em uma década. Isso não é sorte. É fruto de trabalho constante, prisões cautelares, operações integradas e inteligência policial. Só neste mês, prendemos uma liderança criminosa em São Paulo, a partir de uma investigação iniciada aqui”, afirmou o delegado.
Ele também questionou a metodologia da pesquisa da ONG mexicana.
“Tentamos encontrar a fonte exata da pesquisa, entender se estão incluindo mortes a esclarecer, acidentes ou até mesmo vítimas vindas de fora da cidade. O Hospital Clériston Andrade recebe pacientes de 127 municípios, e pode ser que estejam contabilizando esses casos como se fossem de Feira. É algo que precisa ser esclarecido, porque os dados oficiais mostram outra realidade.”
Dr. Yves alerta ainda para os impactos que esse tipo de ranking pode causar na imagem da cidade:
“Divulgações que não correspondem aos dados reais geram pânico e afastam investimentos. Empresários que pensam em se instalar aqui podem desistir por causa dessa percepção equivocada. Por isso é fundamental trabalhar com dados oficiais e confiáveis.”
O secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, também minimizou o impacto da pesquisa, destacando o esforço contínuo das forças estaduais.
“A gente não discute com pesquisa, a gente trabalha. Temos ações integradas com a prefeitura, forças federais e estaduais. Estamos aumentando o número de prisões, apreensões de armas e capturando lideranças criminosas em outros estados, como aconteceu essa semana. A redução da criminalidade em Feira de Santana é visível e estamos no caminho certo.”
Werner defendeu uma abordagem mais ampla para garantir a segurança pública e destacou o programa Bahia pela Paz, que está sendo implantado em bairros populosos da cidade:
“Segurança pública não se faz apenas com polícia. Ações sociais, educação, cultura, esporte e políticas públicas para os jovens são essenciais. Estamos investindo em colégios de tempo integral, cursos técnicos e programas que tiram adolescentes da rua e oferecem oportunidades. Esse é o caminho para uma mudança estrutural.”
Apesar das críticas, os dados da ONG mexicana também reconhecem uma melhoria. Feira de Santana já chegou a ocupar a 9ª posição no ranking mundial e a 19ª entre as cidades mais violentas do Brasil. A atual 22ª colocação, embora ainda preocupante, representa uma queda em relação aos anos anteriores.
A pesquisa considera a taxa de homicídios por 100 mil habitantes como principal critério. Em 2024, a cidade mais violenta do mundo foi Porto Príncipe, no Haiti, com 139,31 homicídios por 100 mil habitantes. O estudo afirma que mais de 80% da cidade está sob domínio de gangues, sem presença efetiva do Estado.
Das 50 cidades mais violentas listadas pela ONG, 45 estão localizadas nas Américas, sendo 20 no México e 8 no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde, essas cidades representam apenas 0,91% da população mundial, mas concentram 8,2% dos homicídios do planeta.
*Com informações do repórter Matheus Gabriel