Feira de Santana

Aumento de favelas em Feira de Santana revela desafios urbanos e sociais, aponta especialista

O município agora ocupa a segunda posição na Bahia, atrás apenas de Salvador, que contabiliza 262 favelas. ,,

17/11/2024 12h16
Aumento de favelas em Feira de Santana revela desafios urbanos e sociais, aponta especialista

De acordo com o Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Feira de Santana apresentou um crescimento significativo no número de favelas e comunidades urbanas, registrando 49 áreas identificadas. O município agora ocupa a segunda posição na Bahia, atrás apenas de Salvador, que contabiliza 262 favelas. Nacionalmente, a maior favela de Feira, Santa Rita, está entre as 20 maiores do Brasil em área por quilômetro quadrado, ocupando a 17ª posição.

Apesar disso, o número de moradores de favelas em Feira é menor que o de Ilhéus: enquanto 44.699 pessoas vivem nessas condições em Feira, Ilhéus abriga 64.364 moradores.

A professora Nacelice Freitas, do curso de Geografia da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), explicou em entrevista ao programa Jornal do Meio Dia (Rádio Princesa FM) que o crescimento populacional aliado ao empobrecimento da população e à falta de políticas públicas têm contribuído para esse aumento.

“Feira de Santana tem quase 94% de sua população vivendo na área urbana, segundo dados recentes do IBGE. No entanto, o empobrecimento da população e o alto valor do solo urbano forçam muitos a ocuparem áreas degradadas, o que contribui para o crescimento das favelas”, explicou Nacelice.

Segundo Nacelice, o cenário é agravado pela ausência de investimentos governamentais em infraestrutura básica.

“Estamos falando de áreas onde os serviços básicos são insuficientes ou inexistentes, como saneamento, iluminação, e coleta de lixo. Para se ter ideia, Feira de Santana possui mais de 31 mil domicílios sem abastecimento de água, 75 mil sem coleta de lixo e 68 mil sem banheiro. Isso é inadmissível em uma cidade que cresce tanto”, afirmou.

A professora também alertou sobre as condições de vida nessas comunidades.

“Feira tem 288 mil domicílios, mas cerca de 68 mil não possuem banheiro, 31 mil não têm abastecimento de água e 75 mil estão sem coleta de lixo. Esses números são alarmantes e mostram que a cidade precisa urgentemente repensar seu espaço urbano.”

Em comparação com Salvador, a professora pontuou que o número proporcional de pessoas vivendo em favelas é menor em Feira devido à diferença populacional. Contudo, as características de abandono são similares.

“Apesar da redução populacional em Salvador, que perdeu mais de 270 mil habitantes nos últimos 12 anos, a dinâmica do crescimento urbano em cidades da região metropolitana, como Camaçari e Lauro de Freitas, mostra que o problema das favelas é distribuído”, disse.

Um aspecto positivo ressaltado pela pesquisadora é o aumento da consciência social. Segundo Nacelice, os movimentos sociais têm adotado o termo “favela” como símbolo de resistência, exigindo mudanças e pressionando o poder público.

“É o próprio estado que cria esses espaços de exclusão e, ao mesmo tempo, discrimina essas áreas. Precisamos repensar o espaço urbano, pois a população que vive nas favelas também paga impostos e merece dignidade”, argumentou.

A entrevista encerrou com um apelo da professora para que a sociedade, pesquisadores e movimentos sociais continuem mobilizados.

“Esse trabalho de sensibilização é fundamental para mudar a realidade. Agradeço a oportunidade de trazer esse debate ao público e reforço que o planejamento urbano é uma questão urgente para o futuro de Feira de Santana e de todo o país.”

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