Aposentada de Feira de Santana denuncia fraude bilionária no INSS e ajuda a desencadear operação nacional da Polícia Federal
A denúncia da feirense acabou impulsionando uma força-tarefa nacional da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), que revelou um esquema que desviou mais de R$ 6 bilhões
Uma aposentada de Feira de Santana, que preferiu não se identificar, foi peça-chave no início de uma das maiores investigações de fraude já registradas contra o INSS. Indignada ao perceber descontos indevidos em seu contracheque, ela acionou o Ministério Público Federal e insistiu até que a apuração ganhasse corpo em Sergipe — estado onde estava sediada a associação responsável pelos débitos ilegais em sua aposentadoria.
A denúncia da feirense acabou impulsionando uma força-tarefa nacional da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), que revelou um esquema que desviou mais de R$ 6 bilhões de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024. Segundo as autoridades, mais de 4 milhões de beneficiários em todo o país foram afetados.
A fraude teve início após uma decisão do INSS, em 2019, que permitiu que associações recolhessem contribuições diretamente das folhas de pagamento dos aposentados, desde que houvesse uma autorização assinada pelo beneficiário. A investigação mostra que esse requisito foi sistematicamente burlado com assinaturas falsificadas, como no caso da idosa de Feira.
A perícia da Polícia Federal confirmou que a assinatura usada pela associação com sede em Aracaju era fraudulenta.
Uma das entidades sob investigação — recebeu, junto com um grupo de outras associações, mais de R$ 300 milhões em apenas 21 meses em repasses oriundos do INSS. Outro nome investigado chegou a reunir 629 mil associados, número superior à população de Feira de Santana.
Dois empresários sergipanos foram apontados como os controladores do esquema e estão presos. Segundo a Polícia Federal, os recursos desviados eram pulverizados em empresas registradas em nome de laranjas.
A operação foi deflagrada no último dia 23 de abril, com mais de 200 mandados de busca e apreensão em 13 estados e no Distrito Federal. O prejuízo estimado ultrapassa R$ 6 bilhões.
Entre os investigados estão também servidores públicos do INSS, incluindo o então presidente do órgão, Alessandro Stefanutto, que foi afastado e posteriormente demitido. A CGU revelou que desde 2023 havia alertado sobre os riscos dos acordos com essas associações, mas apenas em 2024 o órgão iniciou uma auditoria efetiva.
Com o avanço das investigações, o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, também pediu demissão. Em seu lugar, assumiu o ex-deputado federal Wolney Queiroz, e o novo presidente do INSS passou a ser Gilberto Waller Júnior.
A CGU e a PF recomendam que o INSS adote com urgência um sistema de verificação biométrica, como já é feito por bancos, para garantir que os descontos em contracheques sejam devidamente autorizados.
A Polícia Federal reforça: aposentados que identificarem descontos indevidos devem registrar denúncia por meio do site oficial da PF.
*Com informações g1