Saúde

Pediatra levanta debate sobre impactos das telas na saúde infantil

A médica pediatra e hebiatra Dra. Cintia Filomena afirma que o problema não se restringe apenas ao ambiente escolar.

02/02/2025 06h00
Pediatra levanta debate sobre impactos das telas na saúde infantil

A nova legislação que restringe o uso de dispositivos eletrônicos em escolas brasileiras tem gerado discussão entre especialistas, pais e educadores. A medida visa minimizar os impactos negativos que o uso excessivo de telas pode trazer ao desenvolvimento de crianças e adolescentes. Em entrevista ao programa De Olho na Cidade da rádio Sociedade News, a médica pediatra e hebiatra Dra. Cintia Filomena destacou a importância da regulamentação, mas reforçou que o problema não se restringe apenas ao ambiente escolar.

“Essa lei vem como um paliativo para tentar minimizar os efeitos do uso excessivo dos eletrônicos que temos acompanhado em crianças e adolescentes. O excesso tem causado problemas psicoemocionais, deixando as crianças ansiosas, agitadas e com dificuldades de concentração, o que compromete o desempenho escolar e social”, explicou a especialista.

A lei estabelece que os dispositivos eletrônicos devem ser evitados dentro das escolas, inclusive fora das salas de aula.

“Hoje, durante os intervalos, onde antes havia interação social, as crianças e adolescentes ficam isolados, cada um imerso na sua tela. Essa desconexão do mundo real tem consequências graves no desenvolvimento emocional e cognitivo”, alertou Dra. Cintia.

Impactos e recomendações

Estudos apontam que o uso excessivo de telas pode afetar o desenvolvimento infantil, reduzindo a capacidade criativa e cognitiva das crianças.

“Infelizmente, temos visto pesquisas que mostram que o QI das crianças dessa geração está menor do que o dos pais. O excesso de informações superficiais impede o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo”, destacou.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam que crianças menores de dois anos não tenham contato com telas. Entre dois e cinco anos, o tempo de exposição deve ser de até duas horas diárias. Para crianças de seis a dez anos, o limite deve ser de três horas, e para adolescentes acima de 11 anos, no máximo quatro horas diárias.

“A regulação do uso de eletrônicos precisa começar dentro de casa. Os pais devem estabelecer regras claras e limitar o tempo de exposição. Se a família não aderir, a medida nas escolas pode perder a efetividade”, ressaltou a pediatra.

A nova legislação também busca reduzir casos de cyberbullying, um fenômeno que afeta cerca de 20% dos adolescentes, segundo levantamento da UNICEF.

“Muitos adolescentes não têm maturidade para lidar com os perigos do mundo digital. Eles são facilmente enganados, ludibriados e, em alguns casos, até abusados. Por isso, é essencial um controle maior do tempo de tela e dos conteúdos acessados”, alertou a especialista.

Outro ponto preocupante é o aumento do consumo de pornografia entre adolescentes. “Já atendi casos de crianças de 12 e 13 anos com vício em pornografia. Isso pode levar a distorções graves na percepção sobre relações interpessoais e afetivas, além de afetar o desenvolvimento psicoemocional”, pontuou Dra. Cintia.

Desafios da implementação da lei

A execução da nova legislação nas escolas ainda enfrenta desafios.

“Nas escolas particulares, o controle pode ser mais fácil, pois há maior organização e fiscalização. Mas nas escolas públicas, fica a dúvida sobre como essa fiscalização será feita e quem será responsável por esse monitoramento”, ponderou.

Para Dra. Cintia, a nova legislação é um passo importante, mas não suficiente para resolver o problema.

“Precisamos conscientizar as famílias sobre os perigos do uso excessivo dos eletrônicos. A escola pode limitar o acesso, mas se a criança chega em casa e tem total liberdade, o impacto positivo da lei será reduzido”, finalizou a especialista.

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