Medicina além dos exames: Cardiologista defende abordagem centrada no paciente
Dr. Israel chamou atenção para a crescente valorização excessiva dos exames pelos próprios pacientes.
Durante o quadro Momento IDM Cardio, o médico cardiologista Dr. Israel Reis trouxe uma abordagem reflexiva e educativa sobre a prática médica. O tema central foi a importância de tratar o paciente como um todo, e não apenas basear o atendimento nos resultados de exames.
“Medicina sempre foi, primeiramente, sobre conhecer a pessoa. Saber quem é o paciente, qual é a sua idade, seus hábitos, seu histórico familiar e o motivo que o levou até o consultório. Isso é essencial antes mesmo de olharmos qualquer exame”, destacou Dr. Israel.
O cardiologista enfatizou que o momento da consulta é crucial para criar um diagnóstico inicial com base na história clínica e no exame físico. Ele mencionou práticas que, segundo ele, estão sendo esquecidas, como auscultar o paciente com um estetoscópio, verificar a pressão, avaliar o pulso e até mesmo palpar regiões do corpo em busca de sinais de anormalidades.
“O exame físico é o melhor momento para o médico criar uma ideia se o paciente está realmente saudável ou doente antes de recorrer a exames complementares”, explicou.
Supervalorização dos exames
Dr. Israel chamou atenção para a crescente valorização excessiva dos exames pelos próprios pacientes.
“Muitos chegam com pacotes de exames nas mãos antes mesmo de conversarmos. Isso é um erro, porque, sem entender a história do paciente, nem sempre os exames trazem informações úteis para o diagnóstico”, alertou.
Ele criticou a prática de solicitar exames de forma desnecessária, especialmente em um cenário onde os custos da medicina e as dificuldades impostas pelos convênios têm crescido.
“Os convênios são empresas privadas que precisam de lucro. Pedir exames desnecessários sobrecarrega o sistema e não contribui para o diagnóstico. Precisamos educar os pacientes sobre isso”, afirmou.
O cardiologista ainda ressaltou que exames têm margem de erro e precisam ser interpretados dentro do contexto clínico.
“Um exame pode apresentar um resultado falso positivo ou falso negativo, e cabe ao médico filtrar essas informações e confirmar o diagnóstico. O raciocínio clínico não pode ser substituído por uma lista de exames”, pontuou.
Em relação à primeira consulta, Dr. Israel afirmou que conhecer o paciente não significa, necessariamente, pedir uma grande quantidade de exames.
“Dependerá do caso. O importante é estabelecer uma conexão inicial e avaliar se os exames são realmente necessários. Muitas vezes, é possível identificar o problema sem recorrer a uma bateria completa de testes”, disse.
Ele também mencionou a falta de confiança que alguns pacientes têm em médicos que pedem menos exames.
“Infelizmente, muitos acham que o médico que pede poucos exames não está sendo completo, mas, na verdade, ele está sendo racional. Exames só devem ser pedidos quando necessários”, enfatizou.
Dr. Israel destacou a importância de resgatar a essência da medicina, que está na relação médico-paciente e na busca pelo diagnóstico através do raciocínio clínico. “
Precisamos de uma prática médica mais consciente, que valorize o diálogo, o exame físico e o bom senso. O papel do médico vai muito além de interpretar números de exames”, concluiu.