Economia

Economistas analisam impactos do pacote de cortes de gastos do governo federal no mercado financeiro

A proposta, que ainda será enviada ao Congresso Nacional, precisa ser aprovada este ano para que entre em vigor em 2025, seguindo o princípio da anualidade tributária.

02/12/2024 10h20
Economistas analisam impactos do pacote de cortes de gastos do governo federal no mercado financeiro
Foto: Marcello Casal Jr./ Agência Brasil

O pacote de cortes de gastos anunciado pelo governo federal, sob a liderança do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, continua repercutindo amplamente. As medidas, que incluem mudanças no abono salarial, ajustes previdenciários e a isenção de Imposto de Renda (IR) para trabalhadores que ganham até R$ 5 mil, têm gerado reações mistas entre economistas e impacto direto no mercado financeiro.

A proposta, que ainda será enviada ao Congresso Nacional, precisa ser aprovada este ano para que entre em vigor em 2025, seguindo o princípio da anualidade tributária. No entanto, os anúncios já estão afetando a economia. Após a apresentação das medidas, o dólar ultrapassou pela primeira vez os R$ 6, refletindo uma crise de confiança entre os investidores.

O economista Rosevaldo Ferreira destacou os possíveis efeitos negativos dessas medidas, principalmente para as famílias mais vulneráveis.

“A expectativa era de medidas ainda mais amargas, como cortes no seguro-desemprego ou mudanças profundas na previdência, mas o governo optou por mexer em pontos sensíveis, como o abono salarial, que será gradualmente reduzido até 2035”, analisou.

Rosevaldo também alertou para os impactos futuros do reajuste limitado do salário mínimo. “A inflação mais 2,5% será o teto. Isso pode resultar em perdas significativas no longo prazo para os trabalhadores. Além disso, o endurecimento das regras para benefícios sociais como o BPC tende a gerar maior dificuldade para famílias vulneráveis”, pontuou.

Por outro lado, o economista Gesner Brehmer trouxe um contraponto, avaliando que as medidas são uma resposta necessária ao desequilíbrio fiscal do país.

“O governo está tentando reordenar as contas públicas, mas isso pode levar a impactos negativos, como a elevação da inflação e juros ainda mais altos, o que já preocupa o mercado”, explicou.

Brehmer também comentou sobre a desconfiança dos investidores, que pressionou o dólar para níveis recordes.

“O aumento do dólar reflete a falta de confiança na capacidade do governo de equilibrar as contas. Isso afeta negativamente tanto as importações quanto as exportações brasileiras, além de intensificar a crise econômica.”

A proposta de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil foi um dos destaques do pacote. A medida, promessa de campanha do presidente Lula, foi amplamente comemorada, mas também criticada pela falta de um debate mais amplo sobre a reforma tributária.

“A reorganização do sistema tributário é urgente, mas deve ser discutida de forma mais abrangente. Isolar pontos pode gerar soluções paliativas”, argumentou Brehmer.

Próximos passos

As medidas do pacote de ajuste fiscal ainda precisam ser debatidas e aprovadas pelo Congresso Nacional. A expectativa é que o impacto das mudanças se torne mais claro nos próximos meses, à medida que o mercado e os setores da sociedade se ajustem às possíveis consequências.

*Com informações do repórter Robson Nascimento

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